domingo, 29 de junho de 2014

Ato, potência e erro



Aristóteles, ao afirmar que os seres são formados por substância (aquilo que seria estrutural e essencial do ser) e acidente (aquilo que seria atributo circunstancial e não essencial do ser), podendo esses acidentes - casualidades quaisquer - interferir na concretização, em ato, das potências de um ser ignora que a própria essência do ser, o que ele se tornaria sob condições ideais, só surge mediante um ''diálogo'' com o que é externo ao ser, com as ''casualidades''.

 Diz Aristóteles que o movimento, a transitoriedade ou a mudança das coisas se resumem na passagem da potência (possibilidades de ser, capacidade de ser, aquilo que ainda não é mas pode vir a ser) para o ato (a manifestação atual do ser). Dá-se como exemplo uma árvore que está sem flores e que pode tornar-se, com o tempo, florida. Ao adquirir flores, essa árvore manifestaria em ato aquilo que já continha, intrinsecamente, em potência.

 Por outro lado, utilizando ainda o exemplo da árvore, poderia acontecer que, em virtude de certas condições climáticas, uma árvore frutífera não venha a dar frutos (o que contraria a potência de dar frutos). Esse caso é o que Aristóteles classificar como acidente, algo que não ocorre sempre e que não faz parte da essência da árvore.

 Essa maneira metafísica de pensar se dissolve ao perceber-se que a própria ''essência'' da árvore surgiu somente do contato e fusão entre ''casualidades'', através do processo hoje denominado seleção natural - numa dialética permanente com a natureza. E mesmo as suas ''potencialidades'' só podem se dar sob condições climáticas específicas - a árvore não é capaz de viver e se desenvolver per se, ela necessita do externo. O ser em potência, portanto, é qualquer coisa, visto que depende inteiramente das condições externas. O ser só é o que é.

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