segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O 11 de setembro que mudou a história do Chile, parte 2

A ECONOMIA SOB O COMANDO DE PINOCHET (1):


O Chile pode comemorar algum sucesso econômico. Mas isso foi resultado do trabalho do presidente Salvador Allende, que salvou a nação, milagrosamente, dez anos depois de ter sido assassinado a mando de Pinochet.

Estes são os fatos. Em 1973, ano em que o general tomou o governo, o índice de desemprego no Chile era de 4,3%. Em 1983, após 10 anos de modernização e livre mercado, o desemprego chegou a 22%. O salário real caiu cerca de 40% sob o regime militar. Em 1970, antes de Pinochet subir ao poder, 20% da população chilena vivia na pobreza. No ano em que o "presidente" Pinochet deixou o cargo, o número de destituídos havia dobrado para 40%. Que milagre!

Pinochet não destruiu a economia do Chile sozinho. Foram precisos nove anos de trabalho duro das mentes mais brilhantes da academia, aquela corja de trainees de Milton Friedman, os Garotos de Chicago. Seguindo os feitiços teóricos, o general aboliu o salário mínimo, cassou os direitos trabalhistas negociados pelos sindicatos, privatizou a previdência social, acabou com todos os impostos sobre renda e lucro, fez cortes drásticos no funcionalismo público, privatizou 212 estatais e 66 bancos e produziu superávit fiscal. O general empurrou a nação adiante na trilha "neoliberal" (livre mercado), no que seria logo seguido por Thatcher, Reagan, Bush, Clinton e o FMI.

Mas o que aconteceu realmente no Chile? Livre da presença opressiva da burocracia, dos impostos e dos sindicatos, o país deu um grande salto... para a bancarrota. Após nove anos de medidas econômicas ao estilo de Chicago, a indústria chilena definhou e morreu. Em 1982 e 1983, o produto interno caiu 19%. Isso é recessão. A experiência do livre mercado estava acabada e não tinha sobrado nenhum tubo de ensaio inteiro. O chão do laboratório estava forrado de sangue e cacos de vidro.

Ainda assim, com uma ousadia extraordinária, os cientistas loucos de Chicago declararam vitória.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Estado do presidente Ronald Reagan divulgou um relatório conclusivo: ''O Chile é um estudo de caso sobre uma gestão econômica sadia?''. O próprio Milton Friedman cunhou a frase ''O Milagre Chileno''. O economista Art Laffer, discípulo de Friedman, vangloriava-se de que o Chile de Pinochet foi ''um exemplo do que a economia supply-side pode fazer.''

Certamente. Para ser mais exato, o Chile foi um exemplo de desregulamentação completamente fora de controle. Os Garotos de Chicago convenceram o governo militar de que o fim das restrições aos bancos nacionais iria libertá-los para atrair o capital estrangeiro, que financiaria a expansão industrial (uma década depois, tal liberalização do mercado de capitais se tornaria condição sine qua non para a globalização). Seguindo esse conselho, Pinochet vendeu os bancos estatais por um preço 40% abaixo do book value, o valor contabilístico, e eles caíram rapidamente nas mãos de dois conglomerados imperiais controlados pelos especuladores Javier Vial e Manuel Cruzat. Com os bancos nas mãos, Vial e Cruzat drenaram dinheiro para comprar todas as indústrias que podiam e então alavancaram esses ativos com empréstimos de investidores estrangeiros ávidos por conseguir uma fatia do bolo estatal.

E assim as reservas dos bancos foram entulhadas com títulos podres de empreendimentos afiliados.

Pinochet deixou os especuladores à vontade por muito tempo. Ele foi convencido de que o governo não deveria interferir na ''lógica'' do mercado. Em 1982, o jogo financeiro no Chile havia acabado. Os grupos de Vial e Cruzat ficaram inadimplentes. Indústrias foram fechadas, a previdência privada não valia mais nada, o câmbio teve uma síncope. As greves e os protestos de uma população faminta e desesperada demais para temer os fuzis fizeram Pinochet mudar o rumo da economia. E ele chutou seus queridinhos experimentalistas de Chicago.

Ainda de maneira relutante, o general ressuscitou o salário mínimo e devolveu aos sindicatos a condição de negociar coletivamente os direitos trabalhistas. Pinochet, que havia dizimado o funcionalismo público, aprovou um programa para a criação de 500 mil empregos. Seria o equivalente, nos Estados Unidos, ao governo contratar 20 milhões de pessoas. Em outras palavras, o Chile saiu da recessão graças ao maçante e antiquado remédio keynesiano: 100% Franklin Roosevelt, 0% Ronald Reagan. O governo militar instituiu uma lei restringindo a entrada do capital estrangeiro ? uma das poucas remanescentes até hoje na América do Sul.

As táticas do New Deal resgataram o Chile em 1983, mas a recuperação de longo prazo e o crescimento do país desde então são resultado - tape os ouvidos das crianças - de uma boa dose de socialismo. Para salvar a previdência social do país, Pinochet estatizou os bancos e a indústria numa escala inimaginável para o socialista Allende. O general simplesmente desapropriou à vontade, oferecendo pouco ou nada em troca.

Apesar de a maioria dessas empresas acabar voltando, após um período, para a iniciativa privada, o Estado continuou a ser proprietário da indústria do cobre.

A especialista em metais da Universidade de Montana, dra. Janet Finn, afirma: ''É absurdo retratar uma nação como exemplo do milagre da livre iniciativa quando o motor da economia continua nas mãos do governo'' (e não apenas nas mãos do governo. Uma lei de Pinochet, ainda em vigor, dá aos militares 10% dos rendimentos estatais com o cobre). Do cobre vêm entre 30% e 70% dos ganhos do país com exportações. Essa é a moeda forte que construiu o Chile de hoje, a produção das minas da Anaconda e da Kennecott, estatizadas em 1973: o presente póstumo de Allende a seu país.

O agronegócio é a segunda locomotiva da economia chilena. E esse é outro legado do governo de Allende. Segundo o professor Arturo Vasquez, da Universidade Georgetown, a reforma agrária de Allende, ou seja, o desmantelamento dos estados feudais (que Pinochet não conseguiu reverter totalmente), criou uma nova classe de lavradores-proprietários. Aliada a empresas e cooperativas, essa classe gera hoje um montante de exportações capaz de rivalizar com o cobre. ''Para conseguir um milagre econômico'', diz Vasquez, ''talvez seja necessário ter antes um governo socialista que faça a reforma agrária.''

Então é isso. Keynes e Marx, e não Milton Friedman, salvaram o Chile.


- Texto do jornalista investigativo Greg Palast, do livro ''A melhor democracia que o dinheiro pode comprar''.



Teleologia infantil e crença em deus

 (O psicólogo Paul)''Bloom também sugere que temos uma predisposição inata para ser criacionistas. A seleção natural "não faz sentido intuitivamente". As crianças são especialmente propensas a dar um propósito a tudo, como afirma a psicóloga Deborah Keleman em seu artigo "São as crianças 'teístas intuitivas'?".81 Nuvens servem "para chover". Pedras pontudas servem "para os animais poderem se coçar nelas". A designação de um propósito para tudo é denominada teleologia. As crianças são teleológicas por natureza, e muitas nunca abandonam a característica. O dualismo inato e a teologia inata nos predispõem, sob as condições certas, à religião, assim como a reação à bússola de luz de minhas mariposas as predispunha ao "suicídio" inadvertido. Nosso dualismo inato nos prepara para acreditar numa "alma" que habita o corpo, em vez de ser parte integrante do corpo. É fácil imaginar um espírito imaterial assim indo para algum outro lugar depois da morte do corpo. Também é fácil imaginar a existência de uma divindade que seja puro espírito, não uma propriedade que emerge da matéria complexa, mas que existe independentemente da matéria. Mais óbvio ainda, a teleologia infantil nos deixa prontos para a religião. Se tudo tem um propósito, qual é esse propósito? O de Deus, é claro. Mas qual é o equivalente da utilidade da bússola de luz das mariposas? Por que a seleção natural pode ter favorecido o dualismo e a teleologia no cérebro de nossos ancestrais e de seus filhos? Por enquanto, meu relato sobre a teoria dos "dualistas inatos" propôs simplesmente que os seres humanos são dualistas e teleólogos por natureza. Mas qual seria a vantagem darwiniana? Prever o comportamento de entidades de nosso mundo é importante para nossa sobrevivência, e seria de esperar que a seleção natural tivesse moldado nosso cérebro para fazê-lo com eficácia e rapidez. Será que o dualismo e a teleologia nos são úteis para essa capacidade? Talvez compreendamos melhor essa hipótese à luz daquilo que Daniel Dennett chamou de postura intencional. Dennett oferece uma classificação tripla útil para as "posturas" que adotamos quando tentamos entender e portanto prever o comportamento de entidades como animais, máquinas ou uns aos outros.82 São elas a postura física, a postura de projeto e a postura intencional. A postura física sempre funciona em tese, porque tudo acaba obedecendo às leis da física. Mas compreender as coisas usando a postura física pode demorar demais. Até que tenhamos nos sentado e calculado todas as interações das partes móveis de um objeto complicado, nossa previsão sobre seu comportamento provavelmente vai estar atrasada. Para um objeto que realmente tenha sido projetado, como uma máquina de lavar roupa ou um arco para lançar flechas, a postura de projeto é um atalho económico. Podemos adivinhar como o objeto vai se comportar passando por cima da física e apelando direta-mente ao design. Dennett diz: Quase todo mundo é capaz de prever quando o alarme de um relógio vai tocar, com base na mais simples inspeção de seu exterior. Ninguém sabe nem quer saber se ele é movido a corda, a bateria, a energia solar, feito com roldanas de metal e mancai de pedra preciosa ou de chips de silício — simplesmente se assume que ele foi projetado para que o alarme toque quando está marcado para tocar. Os seres vivos não foram projetados, mas a seleção natural darwiniana nos permite adotar uma versão da postura de design para eles. Obtemos um atalho para entender o coração se assumimos que ele foi "projetado" para bombear o sangue. Karl von Frisch foi levado a investigar a visão colorida das abelhas (dian-te da opinião ortodoxa de que elas não distinguiam cores) porque assumiu que as cores vivas das flores foram "projetadas" para atraí-las. As aspas foram projetadas para espantar criacionistas desonestos que senão poderiam reclamar o grande zoólogo austríaco para o seu time. Nem é preciso dizer que ele foi perfeitamente capaz de traduzir a postura de projeto para os termos darwinianos adequados. A postura intencional é outro atalho, e dá um passo além da postura de projeto. Assume-se que uma entidade não só foi projetada para um fim mas que também é, ou contém, um agente com intenções que orientam suas ações. Quando você vê um tigre, é melhor não demorar muito para prever o provável comportamento dele. Deixe para lá a física de suas moléculas, deixe para lá o design de membros, garras e dentes. Aquele felino quer comê-lo, e vai empregar seus membros, patas e dentes de formas flexíveis e habilidosas para concretizar sua intenção. O meio mais rápido de adivinhar o comportamento dele é esquecer a física e a fisiologia e passar à busca pela intenção. Note que, assim como a postura de projeto funciona mesmo para coisas que não foram realmente projetadas, assim como para as que foram, a postura intencional funciona para coisas que não têm intenções conscientes deliberadas, assim como para coisas que têm. Parece-me inteiramente plausível que a postura intencional tenha valor de sobrevivência como mecanismo cerebral que acelera a tomada de decisões em circunstâncias perigosas e em situações sociais cruciais. Não fica tão imediatamente claro que o dualismo é um concomitante necessário da postura intencional. Não explorarei a questão aqui, mas acredito ser possível desenvolver a tese de que algum tipo de teoria de outras mentes, passível de ser descrita como dualista, tende a ser subjacente à postura intencional — especialmente em situações sociais complicadas, e ainda mais especialmente onde a intencionalidade de ordem mais elevada está em jogo. Dennett fala da intencionalidade de terceira ordem (o homem achou que a mulher sabia que ele gostava dela), de quarta ordem (a mulher percebeu que o homem achava que ela sabia que ele gostava dela) e até de quinta ordem (o xamã adivinhou que a mulher percebeu que o homem achava que ela sabia que ele gostava dela). Ordens muito elevadas de intencionalidade são reservadas provavelmente à ficção, como satirizou o hilariante romance de Michael Frayn The tin men [Homens de lata]: "Observando Nunopoulos, Rick soube que ele tinha quase certeza de que Anna sentia um fervoroso desprezo pelo fato de Fiddling-child não ter percebido o que ela sentia por Fiddlingchild, e ela sabia também que Nina sabia que ela sabia que Nunopoujos sabia [...]". Mas o fato de que somos capazes de rir com tamanho contorcionismo ficcional da inferência em outras mentes prova-velmente nos revela algo de importante sobre a forma como nossa cabeça foi naturalmente selecionada para funcionar no mundo real. Em suas ordens menos elevadas, pelo menos, a postura intencional, assim como a postura de projeto, economiza um tempo que pode ser vital à sobrevivência. Em conseqüência, a seleção natural moldou os cérebros a empregar a postura intencional como atalho. Somos biologicamente programados para imputar intenções a entidades cujo comportamento nos interessa. Mais uma vez, Paul Bloom cita evidências experimentais de que as crianças são especialmente propensas a adotar a postura intencional. Quando bebés vêem um objeto que aparentemente segue um outro objeto (por exemplo numa tela de computador), eles assumem que estão testemunhando uma caçada ativa por parte de um agente intencional, e demonstram esse fato manifestando surpresa quando o suposto agente abandona a perseguição. A postura de projeto e a postura intencional são mecanismos cerebrais úteis, importantes para acelerar a previsão de comportamentos de entidades que
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influenciam na sobrevivência, como predadores ou parceiros em potencial. Mas, assim como outros mecanismos cerebrais, essas posturas podem dar errado. As crianças, e os povos primitivos, imputam intenções ao clima, a ondas e correntes, a pedras que caem. Todos nós tendemos a fazer a mesma coisa com máquinas, especialmente quando elas nos deixam na mão. Muitos vão se lembrar com carinho do dia em que o carro de Basil Fawlty* quebrou no meio de sua missão vital para salvar a Noite Gourmet do desastre. Ele foi justo e avisou, contando até três, e então saiu do carro, pegou um galho e atacou o carro sem dó nem piedade. A maioria de nós já sentiu isso, pelo menos por um instante, se não por um carro, por um computador. Justin Barrett cunhou a sigla HADD, para dispositivo hiperativo de detecção de agente.** Detectamos de forma hiperativa agentes onde eles não existem, e isso faz com que suspeitemos de maldade ou bondade quando na verdade só há indiferença na natureza. Eu me pego alimentando um ressentimento feroz contra coisas inanimadas e inocentes como a corrente da minha bicicleta. Uma notícia recente deu conta de que um homem tropeçou num cadarço desamarrado no Museu Fitzwilliam, em Cambridge, caiu e quebrou três vasos da dinastia Qing de valor incalculável: "Ele caiu no meio dos vasos e eles se quebraram em milhões de pedacinhos. Ele ainda estava lá, sentado e assustado, quando os funcionários apareceram. Todo mundo ficou em silêncio, como que em choque. O homem ficava apontando para o cadarço, dizendo: 'Aí está ele; esse é o culpado'.''

domingo, 29 de dezembro de 2013

Lindinalva, a jumenta falante do facebook.

Esse ser mencionado no título do post, Lindinalva, é uma daquelas viúvas da ditadura, membro da direita tacanha e idiota que vem surgindo no Brasil. Esse post foi especialmente escrito para refutar as asneiras que ela disse em um comentário do evento humorístico ''Golpe Comunista 2014!'', comparando os supostos ótimos números de educação, saúde, segurança, economia e bem-estar popular  na época da ditadura com os atuais, advindos do governo federal do PT. Deliciem-se, e lembrem-se de jamais - J-A-M-A-I-S - defender esta triste época da história da nossa nação, marcada pelo endividamento, pelo sofrimento do trabalhador, pelas torturas nos porões e pela repressão midiática. As afirmações dela estão em vermelho e com aspas, e minhas respostas vêm logo abaixo (também uso aspas para indicar discursos de outros autores).

''Maior escândalo de corrupção da história contemporânea do Brasil;'' 

E o tremsalão tucano? E a corrupção na ditadura? Essas porras não existiram?

''Maior dívida interna de todos os tempos, 2,3 (dois trilhões e trezentos milhões de reais) E, dívida externa de 300 (trezentos bilhões de dólares); Inflação e juros em alta;''

DE ONDE CÊ TIROU ESSES NÚMEROS, SUA LOUCA? A dívida externa, no final do governo do Lula, caiu pra zero. A interna, subiu pra 1,4 trilhões, é verdade. Mas a dívida externa zerou. 

Segundo o link do Diogo, ''Para o Brasil, pouca ou nenhuma diferença faz para quem deve, o fato é que a dívida não só continua como aumentou'', o que é uma mentira. Faz sim. Nós aqui podemos controlar as taxas de juros que os credores brasileiros cobram, para que não sejam abusivos. Não temos o mesmo poder em relação ao mercado externo de crédito. Quanta à inflação? Fechamos o ano com mais ou menos 5% de inflação. O ano de 1985 fechou com 202% de inflação. Pequena diferença, não? Vamos ver um pouco do que o Cláudio Vicentino tem a nos dizer sobre 1974-1980: ''Esse crescimento (da economia e do PIB) não trouxe desenvolvimento. A distribuição de renda sofreu uma completa distorção.Em outras palavras: os ricos ficaram mais ricos e os pobres conseguiram a verdadeira proeza de... ficarem mais pobres. A maioria dos brasileiros não se beneficiou do 'milagre'. Isso porque a nossa crescente dependência do exterior e do capital estrangeiro levou-nos, muitas vezes, a produzir não o que era fundamental para a nossa população, mas o que era lucrativo para as multinacionais. O crescimento brutal da dívida externa obrigou-nos a exportar o que podíamos e o que não podíamos, diante da desesperada necessidade de obter dólares para pagar os juros e amortizar a dívida (que entre 64 e 80 passara de aproximadamente 3,5 bilhões de dólares para 77 bilhões). Esses fatores já eram suficientes para demonstrar que o 'milagre brasileiro' não tinha bases sólidas. E se a isso acrescentarmos o fato de que o regime deu pouquíssima atenção aos setores da saúde e da educação - que são fundamentais para o bom desempenho de uma economia moderna (Nota: o governo militar chegou a investir só 1% do PIB na educação. Fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br/upload/d/cap_6.pdf , quanto à educação naquela época: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb10.htm e http://a24horas.com/destaques/analise-da-educacao-no-periodo-da-ditadura-militar-brasileira-e-os-reflexos-e-saidas-para-a-educacao-atual/)- Chegamos à conclusão de que as bases do crescimento econômico daquele período não eram apenas pouco sólidas; na realidade, elas eram falsas. E ninguém percebia isso? Claro que sim. Alguns, claramente, enquanto muitos outros desconfiavam que algo não ia bem. Mas a propaganda, a repressão policial e a imprensa mantinham todos em prudente silêncio. E os poucos que se manifestavamm eram rapidamente retirados de circulação, acusados de contestadores, subversivos e... comunistas. A partir de 1974, porém, aquilo sobre que os tais 'contestadores' vinham tentando alertar - e até evitar - finalmente aconteceu. A economia mundial passou do crescimento à recessão. Os choques do petróleo pressionaram negativamente o balanço brasileiro de pagamentos. As taxas internacionais de juros subiram, as exportações ficaram mais difíceis, e nossos credores começaram a nos apertar. Internamente, a classe média, já empanturrada de bens de consumo duráveis, não tinha mais condições de ampliar seu consumo, enquanto a classe baixa, ganhando salários ínfimos, jamais poderia consumir a quantidade de produtos despejados no mercado. Resultado: as indústrias comelaram a ter dificuldade de vender sua produção(...)''. Fonte: Coleção de História Anglo, volume 3. Nem isso vocês leem, né?

ACHOU POUCO? Vamos ver o que Evaldo Vieira têm a dizer sobre as condições do trabalhador naquela época:

''O crescimento econômico do país repousava, em grande parte, no desempenho do setor industrial. Mas não foi apenas e principalmente o desempenho do setor industrial que se responsabilizou pelo crescimento do PIB. Houve também aumento do total de investimentos estrangeiros e estatais no Brasil. Este fato acabou provocando o aumento da dívida externa, que passou de 3,9 bilhões de dólares em 1968, para além de 12,5 bilhões de dólares em 1973. Assim, no governo de Médici, enquanto se festejava a embriaguez do dito 'milagre econômico', a dívida externa do Brasil crescia bem mais de 3 vezes. Os tecnoburocratas, que circulavam em volta dos enormes poderes do presidente da república, polemizavam sobre a distribição de renda à população¹. Uns preocupavam-se em distribuí-las durante o próprio curso do desenvolvimento econômico. Outros achavam necessário aumentar o tamanho do bolo, para depois repartí-lo. Têm-se a impressãod de que a ''teoria do bolo'' prevaleceu. O bolo era mínimo e poucos privilegiados levaram-no para casa. O povo não pôde prová-lo. É possível, devido à ampliação da dívida externa, que nem houvesse bolo, a não ser nas cabeças dos tais técnicos governamentais e nas fantasias projetadas pela propaganda política da presidência da república. Imagine-se o quadro melancólico dos assalariados, sem horizonte azul, tão pouco lembrado pelos discípulos da euforia. Dentro do período que se denominou 'milagre econômico', as condições pioravam para quem trabalhava. Em 1969, a produtividade real foi de 5,9 , mas os reajustes salariais tiveram seu cálculo com base em 3,0. Em 1971, a produção real foi de 8,1 , mas os reajustes salariais tiveram seu cálculo com base em 3,5. Em 1973, a produtividade real foi de 8,4 , mas os reajustes salariais tiveram seu cálculo com base em 4,0. As diferenças entre esses índices evidenciam a queda nos salários, cujos aumentos não correspondiam sequer aos discutíveis índices de produtividade real, obra dos donos do governo. Por outro lado, nunca é demais examinar a questão da alimentação dos trabalhadores. Analisando-se o tempo de trabalho necessário para se comprar os alimentos mínimos, conforme o Decreto-Lei nº399 de 1938, constatam-se muitas dificuldades dos assalariados. Em 1969, eram necessários 110 horas e 23 minutos, a fim de comprar-se a alimentação mínima, de acordo com o citado Decreto-Lei. EM 1973, eram necessárias 147 horas e 4 minutos para adquirir-se a mesma alimentação. Em nome do 'milagre brasileiro', ou do 'aumento do bolo', a maioria da população trabalhava mais, para comer. 

Mergulhados no silêncio imposto pela repressão política e nas mágicas divulgadas pela 
propaganda governamental, muitas pessoas comemoravam o SEU milagre econômico, ao passo que 
o restante dos brasileiros assistia à festas bem programadas. A maioria do povo sentia a vida sem milagre!''. Fonte: A República Brasileira: 1964-1984, págs 38 e 39.

TÃO AÍ EM CIMA, BANDO DE DESGRAÇADOS SAUDOSISTAS DA PORRA DA DITADURA, OS RESULTADOS DESSE REGIME NOJENTO.

''A quebra da Petrobras, maior empresa da América Latina, com dívida de 7,3 (sete bilhões e trezentos milhões de reais);''

O pai de um amigo meu, que trabalha lá a 30 anos, acha que a petrobrás está muito melhor que antigamente. Eu particularmente não sei, e vou pesquisar mais sobre o assunto.

''20 milhões de brasileiros na extrema pobreza e descontrole total do programa do bolsa família, que apenas serve para manter o voto cabresto, para perpetuar no poder;''

O BOLSA FAMÍLIA TIROU 10 MILHÕES DE PESSOAS NA MISÉRIA E AINDA FORTALECEU A ECONOMIA, SUA FDP. Para cada 1 real investido no programa, 1,44 retornavam. Fontes: http://www.istoe.com.br/assuntos/editorial/detalhe/170230_OS+EMERGENTES+DO+BOLSA+FAMILIA , http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/desistencia-do-bolsa-familia-chega-a-40.html , http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=17977.
 O bolsa família não é só pra manter voto de cabresto. Melhorou a vida de muita gente. O governo o complementou com os cursos do PRONATEC, e se tudo der certo, nós ainda faremos com que o imposto sobre grandes fortunas seja acionado para reduzir ainda mais a miséria e a desigualdade. OS MILICOS DESGRAÇADOS PODIAM TER ACABADO COM A PORRA DA MISÉRIA SE QUISESSEM, MAS NÃO FIZERAM ISSO. Sabe por quê? Porque eram um bando de corruptos lacaios das empresas e do capital estrangeiro =)  . Com suas palavras, o grande Edmar Bacha:

''Caso houvesse a intenção de resolver a intenção de resolver o problema da miséria no Brasil, qual seria a magnitude do problema a enfrentar? Para obter uma aproximação numérica, consideremos os dados de 1970, processados pelo Banco Mundial. Dividamos as famílias brasileiras em 2 grupos, de um lado os 40% mais pobres, de outro, os 60% acima de uma linha de demarcação da pobreza, que situamos em Cr$186,80 por mês (a preços de setembro de 1970).Tal era a renda média do decil de distribuição situado imediatamente acima dos 40% mais pobres. Essa renda mensal familiar praticametne iguala o salário mínimo vigente na época do Censo, o qual era de Cr$187,20 em São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com o Censo, a renda média das famílias brasileiras era de Cr$444,60 por mês. Já a renda média dos 40% mais pobres alcançava apenas Cr$85,60 por mês. Nessas condições, para que a renda de todas as famílias pobres (ou seja, os 40% abaixo da linha de pobreza previamente demarcada) alcance o valor de Cr$186,80 por mês, a porcentagem de renda total que precisa ser transferida dos não-pobres para os pobres pode ser calculada através da expressão:

                          0,4 x 186,60 - 85,60/444,60 = 0,09

Ou seja, para ELIMINAR a miséria no Brasil, o problema da miséria no Brasil, é preciso transferir 9% da renda total dos 60% mais ricos para os 40% mais pobres. Após esta transferência, os 40% mais pobres disporão de 17% da renda total do país, que é um valor apenas ligeiramente inferior à proporção encontrada na distribuição de renda das democracias ocidentais. Faz pouco sentido político ou econômico redistribuir renda de todos aqueles que estão acima da linha de pobreza antes definida. Os 9% de renda a serem transferidos aos mais pobres deviam sair predominantemente da renda dos 10% mais ricos, que atualmente se apropriam da desmesurada proporção de 49% da renda total. Após a transferência de renda, os 10% mais ricos continuarão desfrutando de 30% da renda total, o que é um valor compatível com os valores observados não só nas democracias ocidentais, como também em países em desenvolvimento, como Formosa e Coreia do Sul''. Fonte: Política Econômica e Distribuição de Renda, págs 60 e 61. Isso aí era de 1978.

EM RESUMO: OS MILICOS DA DITADURA ERAM UM BANDO DE FDP'S QUE ESTAVAM CAGANDO PRO POVO. E a asna ainda me vem com uma imagem dessas:


''Maior quantidade de Ministérios do planeta (39 ministérios para abrigar o maior cabine de emprego do mundo),lembre-se no Regime Militar era apenas 12 ministérios''

Pois é, o regime militar chegou a investir só 1% do PIB na saúde, tinha péssimas condições
de IDH e escolaridade, como já foi demonstrado acima, e eu faço o favor de repetir o quão ruim estava o país quando saiu das mãos dos militares:
 Também fez a inflação subir de 88% a 202% ao ano só de 1981 a 1984 e os trabalhadores e estudantes sofriam o diabo a quatro sem poder reclamar um pingo. Eu prefiro os 39 ministérios, apesar de achar que eles deveriam ser reduzidos e que tanto o salário quanto o número de políticos deveriam ser diminuídos também.


''Sucateamento das Forças Armadas e desmotivação da tropa''

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/11/1373860-projetos-militares-lideram-investimentos-do-governo-federal.shtml

''A Saúde na UTI a Educação um caos e Segurança a mais insegura da república, com mais de 50 mil mortes e desaparecidos ao ano. Lembre-se no Regime Militar, foi de menos de 500 mortos e desaparecidos em 21 anos, nos confrontos de militares nacionalistas e guerrilheiros terroristas, sem contar o "tribunal de justiçamento" dos guerrilheiros comunistas, onde os companheiros matavam uns aos outros, era o pacto firmado por eles''

Sobre a educação, eu já falei que ela é muito melhor do que na ditadura, o IDH de hoje dá porrada no IDH da época dos milicos. Sobre a segurança:

''O presente ensaio surgiu a partir de uma discussão em sala de aula do curso de Ciência Política na Faculdade América Latina, em Caxias do Sul/RS.
 Discutia-se a questão da violência. Um de meus alunos, ferrenho defensor de regimes ditatoriais, ergueu a voz afirmando que no Regime Militar Brasileiro (1964-1985) não havia criminalidade, não tinha violência e que um cidadão podia sair à noite e nada lhe aconteceria. No entanto, agora no período democrático todos tinham medo de sair na rua.
“Que democracia é esta?”, exclamou ele. Esta é uma pergunta extremamente interessante e que todos aqueles que defendem o período militar a “tiram do bolso” em qualquer situação. É quase como uma afirmação de fé: não se comprova cientificamente a existência de determinado fenômeno religioso. É como uma verdade absoluta que está escrita em um “livro sagrado” e é intocável.Não podemos afirmar que inexistia criminalidade no período militar. Existia, mas não nas mesmas proporções dos dias de hoje. No entanto, o que os defensores do extinto regime se esquecem de contar é que ao longo dos sucessivos governos democraticamente escolhidos pelo povo brasileiro (Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart) tinha uma violência inferior ao do período militar''.
Fonte: Ensaio sobre Ditadura, criminalidade, democracia, liberdade e criminalidade no Brasil repúblicano- Rodrigo Santos de Oliveira; retirado do link: http://www.seer.furg.br/hist/article/view/3160/1827

Agora mostre suas fontes de que ''no Regime Militar, foi de menos de 500 mortos e desaparecidos em 21 anos''.

Links legais:
http://www.historiazine.com/2011/08/o-cidadao-brasileiro-sob-a-ditadura.html
(Abram o vídeo no youtube e observem os links na descrição)


Sintetizando: QUE VÁ TOMAR NO CU TODO MUNDO QUE PREFERE A DITADURA MILITAR ASSASSINA À NOSSA DEMOCRACIA PROGRESSISTA!

E fico por aqui.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Discurso

 ''O orgulho nacional é, para os países, o que a auto-estima é para os indivíduos: uma condição necessária para o auto-aperfeiçoamento'', disse o filósofo norte-americano Richard Rorty em seu livro Achieving Our Contry, e sinto que devo concordar com ele. Somente quando um povo se orgulha de si como nação, quando possui uma imagem inspiradora de seu país, é que este pode progredir, pois é quando o povo, na exigência de melhorias imediatas, faz seus governantes trabalharem em prol da população.

 Para compreender melhor isso, basta lembrar das manifestações de meados de 2013: quando questionados e pressionados pelo povo, os governantes imediatamente agiram, atendendo às requisições feitas. As manifestações, ainda que marcadas por um triste antipartidarismo (que é infelizmente compreensível, graças aos escândalos de corrupção que se ouve todo dia), foram palco de um belo nacionalismo, de identificação do cidadão com um algo maior, algo que rompe as barreiras do preconceito racial, sexual ou regional, que exalta as semelhanças ao invés das diferenças.

 Nós, brasileiros, estamos acostumados a ter uma visão negativa do nosso país. Séculos tristes compostos por escravidão, ditadura, corrupção e subdesenvolvimento não sairão tão cedo das nossas memórias. Nós desenvolvemos um angustiante complexo de inferioridade, e tudo passou a parecer melhor do que aquilo que o Brasil tem a oferecer -sejam as condições de alimentação em Cuba, seja o desenvolvimento de um EUA ou Japão. O problema desse sentimento é que ele impede o nosso progresso: começamos a acreditar que as coisas JAMAIS mudarão, que NENHUMA atitude pode ajudar o país, que NADA adiantará para transformá-lo... E este sentimento precisa de um basta.

 Nós esquecemos que também possuímos nossas pequenas glórias, nossas vitórias. Esquecemos que foi a nossa força como população que deu fim à ditadura. Esquecemos que nosso povo é famoso, no exterior, como um povo trabalhador, alegre e acolhedor. Esquecemos que é mérito do nosso governo a criação de um programa que tirou milhões da miséria, com um mínimo gasto do PIB -programa esse que agora é elogiado pela ONU e indicado para outros países. Como qualquer outra nação, a nossa  apresenta altos e baixos, ainda que talvez os baixos superem os altos. Nossos resultados em educação ainda são ruins, é verdade. A desigualdade econômica causa pena. O estado da saúde pública é de causar vergonha. Mas nós nos encontramos numa situação muito melhor que a de tempos anteriores. Nós progredimos, e caso se estudem os detalhes dessas mudanças progressistas, ver-se-á que um forte desejo de melhorar as condições de vida do povo brasileiro está enraizado em cada uma delas. E é esse mesmo desejo que devemos carregar para as urnas nas eleições de 2014(e não só nelas), para de fato melhorar o país.

 Espero que não confundam esse discurso com o discurso ufanista da ditadura militar. Os militares invocaram o nome da nação para dar a luz à um regime violento, opressor, catastrófico. O orgulho nacional que eu exalto aqui é outra coisa: trata-se de uma paixão pelo ideal da democracia, pela inclusão das camadas oprimidas, pelo direito à livre-expressão, pela redução da desigualdade econômica. Trata-se de uma fé fervorosa no país -uma fé sem dogmas e sem superstições, porém.

 O meu desejo, ou melhor, o meu pedido à todos aqueles que leram ou ouviram esse discurso é o seguinte: despertem para o seu país, para o seu povo. Por algum tempo, abandonem as futilidades -o consumo alienado, a procrastinação- e preocupem-se com a nossa situação. Encham seus corações com o mesmo desejo flamejante que moveu todos aqueles cidadãos que, na década de 80, ressuscitaram a democracia tupiniquim. Pintem suas caras, façam faixas, visitem sindicatos, entrevistem políticos, definam suas causas e vão às ruas. O ano de 2013 mostrou que o povo brasileiro, com razão, não está satisfeito com o estado de seu país. Somente novas manifestações, unida à uma verdadeira politização da população, será capaz de trazer as mudanças necessárias.

 O gigante ainda não acordou, mas podemos ter certeza que isso acontecerá quando ele sentir o calor dentro de seu peito -quando ele sentir que a paixão do povo brasileiro por seu país é maior que seus problemas, e que ela pode resolvê-los.

sábado, 16 de novembro de 2013

Estamos perdendo nossa identidade?

 Nesse momento, somos 7 bilhões de pessoas sobre a Terra. Com uma taxa de crescimento altíssima (vale lembrar que em 1950 éramos 2,5 bilhões, ''apenas''), podemos dizer que, em breve, enfrentaremos os problemas da superpopulação, se é que já não estamos enfrentando. Mas não quero falar sobre isso. Não, não, quero falar de outro problema relacionado ao desenvolvimento: a perda da nossa identidade no mundo globalizado.

  A partir da 1ª Revolução Industrial, a maior parte da população-o proletariado-passou a exaurir-se na venda de sua força de trabalho, apenas para obter o dinheiro mínimo para sobreviver e sem sequer poder usufruir dos resultados de seu próprio trabalho nas indústrias primitivas. Foi mais ou menos o que Karl Marx chamou de Trabalho Alienado. As péssimas condições de trabalho da época foram a força impulsionadora para o surgimento dos movimentos sindicais porvir, influenciados pelas ideias de Marx. Após mais de um século de movimento operário, as condições do trabalhador melhoraram, em questão de saúde, lazer e educação etc¹. Hoje porém, nesse redemoinho que é a sociedade de consumo, o cidadão comum sofre com um novo mal, a superficialização da própria identidade.

 Desde crianças, estamos cercados por todo tipo de propaganda consumista, mesmo que ainda não estejamos em condições ideais para decidir o que de fato precisamos². Não que o consumo elevado seja, propriamente, um mal; ele parece ser uma característica intrínseca dos países desenvolvidos. Mas será que é ideal seguirmos esse tipo de desenvolvimento? O problema do consumo excessivo é que, além da enorme quantidade de resíduos gerado, os consumidores perdem sua singularidade, tornam-se iguais à todo mundo, uma massa de manobra focada em comprar. O mercado lança um produto-um carro novo, um celular novo, uma roupa nova-e logo faz seu marketing, alavancando-o à um status que é risível para qualquer pessoa com um olhar crítico: quem tem x é top, é cool, é diferente dos outros mortais; E nós, o proletariado orwelliano, caímos como uma ovelhinha. Ridículo, eu sei. Mas é o que acontece, todo ano.

 E nesse turbilhão de superficialização, onde o objetivo máximo da população é ter o produto da moda (seja o novo galaxy, o tênis daquela marca insuperável ou mesmo um corpo sarado), o indivíduo em si vai ficando desbotado. Oras, se só é legal ter aquilo que todo mundo quer, por quê ser original? Por quê ter características próprias?

 Não há mais originalidade entre as pessoas. Tudo o que fazemos é copiar os modelos pré-existentes, sem inovar. A consequência final disso tudo-isto é, da generalização do pensamento único-é um povo alienado, cujas pessoas pouco diferem umas das outras. Aos poucos, há também uma despreocupação com a manutenção do status quo (''pra quê realizar reformas sociais, se eu finalmente estou ficando rico?'', diz a nova direita intelectual brasileira, que ainda por cima deseja eliminar alguns benefícios sociais já existentes, conseguidos com muita luta), e uma  despolitização da juventude, como se demonstra pelas recentes manifestações: uma massa foi à rua, completamente desorganizada, reclamando de tudo e sem apresentar solução pra nada. E, quando  membros da juventude de certos partidos (estes com uma chance maior de mudar as coisas) quiseram se juntar ao movimento, foram expulsos a tapas. Não surpreende que as manifestações tenham esfriado em tão pouco tempo. A maioria daqueles jovens não estavam realmente preocupada em mudar o Brasil. Foram para a rua porque todo mundo estava indo. Foram para a rua porque participar das manifestações era o novo produto da moda.

 É nesse contexto de imbecilização e aculturação, auxiliado por uma mídia manipuladora, que vamos perdendo nossa identidade, seja a nacional, regional ou pessoal. Precisamos recuperar o que é nosso, ou mais que isso: precisamos recuperar o nosso próprio ''eu''. Precisamos discutir ideias, questionar dogmas, apresentar soluções. Precisamos enterrar para sempre os velhos ''x ou y não se discute''. Precisamos ser originais, autônomos, tanto nas artes como na ciência e na política. Que os grupos opressores temam diante de uma revolução democrática! Os cidadãos nada tem a perder a não ser suas algemas. Eles têm um mundo a ganhar. Brasileiros de todo o país, uni-vos!

NOTAS

1- Infelizmente, em muitos lugares do mundo, as crianças ainda sofrem com o trabalho infantil, e em condições até similares aos das primeiras indústrias inglesas. Leia mais aqui:
http://www.historyextra.com/book-club/childhood-and-child-labour-british-industrial-revolution

2- Segundo Noam Chomsky,''os Estados Unidos simplesmente passaram a dirigir países como o Brasil, que há cerca de 50 anos tem sido controlado por tecnocratas norte-americanos. Com o peso dos seus recursos já deveria ser um dos países mais ricos do mundo, e já teve as taxas de desenvolvimento mais altas. No entanto, devido à influência norte-americana no seu sistema econômico e social, está situado perto da Albânia e do Paraguai em termos de qualidade de vida, mortalidade infantil, etc''. Lembre agora do fato de a Rede Globo ter feito alianças com a ditadura militar, e esta, com o governo dos Estados Unidos. Lembre da enorme puxação de saco das grandes figuras da mídia brasileira (como a nojenta Veja) para o país norte-americano. Lembre da instalação do neo-liberalismo e da privatização desenfreada de certos grupos políticos nos anos 80-90. A maior parte do nosso mercado está dominado por produtos estrangeiros. E olha que Chomsky falou isso por volta de 1994...

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

25 frases de Einstein que todos deveriam conhecer

...e mais outras 5, só pra provocar:

1-A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia. Abrangendo os terrenos material e espiritual, essa religião será baseada num certo sentido religioso proveniente da experiência de todas as coisas, naturais e espirituais, como uma entidade expressiva ou como a expressão da Unidade.

2-Saber que existe algo insondável, sentir a presença de algo profundamente racional, radiantemente belo, algo que compreendemos apenas de forma rudimentar-esta é a experiência que constitui a atitude genuinamente religiosa. Neste sentido, e somente neste sentido, eu pertenço aos homens profundamente religiosos.

3-O característico do homem religioso consiste no fato de ter se libertado das algemas de seu egoísmo, construindo, por seu modo de pensar, sentir e agir, um mundo de valores suprapersonais, aprofundando e ampliando cada vez mais o seu impacto sobre a vida.

4-Nas crianças reside a esperança do mundo.

5-Aceito o mesmo Deus que Spinoza chama de alma do universo. Não aceito um Deus que se preocupe com nossas necessidades humanas.

6-Talvez algum dia a solidão venha a ser adequadamente reconhecida e apreciada como mestra da personalidade. Há muitos que os orientais o sabem. O indivíduo que teve a experiência da solidão não se torna vítima da sugestão das massas.

7-Meu ideal político é a democracia. Seja cada homem respeitado como indivíduo, e ninguém idolatrado.

8-Os gênios religiosos de todas as épocas têm-se distinguido do comum dos mortais por uma espécie de sentimento religioso cósmico, que não conhece dogmas nem concebe um Deus à imagem do homem. Por isso não pode haver igrejas cujos ensinamentos centrais se apoiem nesse sentir. Será, portanto, entre os heréticos de todas as épocas que vamos encontrar homens impregnados do mais elevado sentimento religioso, considerado por seus contemporâneos ora como ateus, ora como santos. Através desse prisma, homens como Demócrito, Francisco de Assis e Spinoza estão muito próximos uns dos outros.

9-A paz é a única forma de realmente nos sentirmos humanos.

10-Nós, cientistas, acreditamos que o que nós e nossos semelhantes fizermos ou deixarmos de fazer nos próximos anos determinará o destino de nossa civilização. E consideramos nossa tarefa explicar incansavelmente essa verdade, ajudar as pessoas a perceber tudo aquilo que está em jogo, e trabalhar, não para contemporizar, mas para aumentar o entendimento e conseguir, finalmente, a harmonia entre povos e nações de diferentes pontos de vista.

11-Há apenas um caminho para a paz e para a segurança: o da organização supranacional. O armamentismo unilateral, em base nacionalista, apenas intensifica a incerteza e a confusão generalizadas, sem constituir-se uma proteção eficaz.

12-Quanto mais avança a evolução espiritual da humanidade, tanto mais certo me parece que o caminho para a religiosidade genuína não passa pelo medo da vida, nem pelo medo da morte, nem pela fé cega, mas pelo esforço por atingir o conhecimento racional. Neste sentido, creio que o sacerdote tem de se tornar professor, se deseja fazer jus à sua sublime missão educativa.

13-Através dos livros científicos populares, logo me convenci de que muitas das histórias da Bíblia  não podem ser verdadeiras. A consequência de tal fato foi uma positiva atividade fanática pela liberdade de pensamento, junto com a impressão de que os jovens estão sendo intencionalmente ludibriados.

14-A humanidade se apaixona por finalidades irrisórias que têm por nome a riqueza, a glória, o luxo. Desde moço já as abominava.

15-Neste momento da história da Vida, a compreensão das relações causais mostra-se limitada e o espírito humano tem de inventar seres mais ou menos à sua imagem. Transfere para a vontade e o poder deles as experiências dolorosas e trágicas de seu destino. Acredita mesmo poder obter sentimentos propícios desses seres pela realização de ritos ou de sacrifícios. Porque a memória das gerações passadas lhe faz crer no poder propiciatório do rito para alcançar as boas graças de seres que ele próprio criou.

16-A violência fascina os seres moralmente fracos. Um tirano vence por argúcia, mas seu sucessor será sempre rematado canalha. Por esta razão, luto sem tréguas e apaixonadamente contra os sistemas dessa natureza.

17-Detesto com todas as forças o heroísmo obrigatório, a violência gratuita e o nacionalismo exacerbado. A guerra é a coisa mais desprezível que existe. Preferiria deixar-me assassinar a participar dessa ignomínia.

18-Não posso imaginar um Deus a recompensar e a castigar o objeto de sua criação. Não posso fazer ideias de um ser que sobreviva à morte de seu corpo. Se semelhantes ideias germinam em um espírito, para mim ele é um fraco, medroso e estupidamente egoísta.

19-O espírito cientifico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica. Ela se distingue da crença das multidões ingênuas que consideram Deus um ser de quem esperam benignidade e do qual temem o castigo.

20-A ideia do rebanho humano me leva a falar da pior excrescência do espírito humano: o militarismo, que eu detesto. Se alguém é capaz de marchar em fila com prazer, ao som de uma banda, basta para merecer meu desprezo.

21-Evidentemente, nós existimos para nossos semelhantes--em primeiro lugar, para as pessoas queridas de cujos bem-estar e sorrisos depende nossa felicidade; depois, para todos esses seres que não conhecemos pessoalmente, aos quais, entretanto, estamos ligados pelos laços de simpatia e fraternidade humanas.

22-A razão é fraca naturalmente, quando defrontada como sua tarefa infindável. Fraca realmente, se comparada às loucuras e paixões da humanidade, as quais, temos de admitir, quase inteiramente controlam o nosso destino humano, nas grandes e pequenas coisas. No entanto, a obra do entendimento sobrevive às gerações barulhentas e espalha luz e calor através dos séculos.

23-A inteligência e o caráter das massas são incomparavelmente inferiores à inteligência e ao caráter dos poucos que produzem algo de valor para a comunidade.

24-A ciência não apenas purifica o espírito religioso do azinhavre de seu antropomorfismo, mas contribui também para uma espiritualização religiosa de nossa compreensão.

25-Enquanto existirem exércitos, qualquer desentendimento mais sério nos levará à uma guerra. Um pacifismo que não tenta impedir as nações de se armar é e será um pacifismo impotente. 

26-Sou um descrente profundamente religioso. Isso é, de certa forma, um novo tipo de religião.

27-Jamais imputei à natureza um propósito ou um objetivo, nem nada que possa ser entendido como entendido como antropomórfico. O que vejo na natureza é uma estrutura magnífica que só compreendemos de modo muito imperfeito, e que não tem como não encher uma pessoa racional de um sentimento de humildade. É um sentimento genuinamente religioso, que nada tem a ver com misticismo.

28-A ideia de um deus pessoal me é bastante estranha, e me parece até ingênua.

29-É claro que era mentira o que você leu sobre minhas convicções religiosas, uma mentira que está sendo sistematicamente repetida. Não acredito num deus pessoal e nunca neguei isso, e sim o manifestei claramente. Se há algo em mim que possa ser chamado de religioso, é a admiração ilimitada pela estrutura do universo, do modo como a ciência é capaz de revelar.

30-A palavra ''Deus'' para mim nada mais é do que a expressão e produto da fraqueza humana, e a bíblia uma coleção de lendas honradas, mas ainda sim primitivas, que são bastante infantis.
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Fontes das afirmações:

O pensamento vivo de Einstein, editora Martin Claret.
Einstein e a religião, Max Jammer.
Carta-resposta ao filósofo Eric Gutkind, escrita (por Einstein) em 1954.


domingo, 27 de outubro de 2013

ISTOÉ e os ataques estúpidos à ciência tupiniquim

 Há um lobby criacionista agindo no meio universitário brasileiro. Famosos aqui desde o ''Darwinismo Hoje'', evento anual realizado na universidade presbiteriana Mackenzie, os autodenominados ''criacionistas científicos'' têm feito de tudo para inserir sua crença no ensino brasileiro, forçando nossos estudantes a aprender como correto aquilo que é absurdo: que o mundo foi criado após da domesticação do cachorro.

 Este ano, a mais nova ideia desses corruptores da educação era realizar o evento ''1º Fórum de Filosofia e Ciências das Origens'' na UNICAMP, universidade famosa por ser um dos maiores centros de pesquisa em terras brasileiras. O evento RELIGIOSO possuía apenas UM membro do corpo docente da universidade dentro do grupo de palestrantes, o professor Marcos Eberlin, do Instituto de Química da mesma, e esse não possui sequer um artigo publicado sobre criacionismo ou design inteligente (apesar de ser frequentador assíduo do evento da Mackenzie citado anteriormente). Ou seja: não seria um debate realmente científico sobre a Teoria da Evolução, mas apenas um grupo de religiosos e um cientista falando mal dela.

 Toda essa polêmica deixa transparecer que as pessoas ainda não compreenderam o que é ciência. Entendam: ciência é uma ferramenta que funciona dando explicações NATURAIS para as nossas perguntas. Questionando a natureza, como alguns cientistas dizem, é possível descobrir as forças que agem transformando nosso mundo. O que esses criacionistas querem é meter suas crenças cientificamente infundadas nos livros didáticos, usando explicações míticas e provindas de um livro cheio de erros em relação à natureza; diferentemente dos cientistas, que analisam os fatos para chegar a uma conclusão, os criacionistas já têm uma conclusão e buscam (e distorcem) fatos para respaldá-la. E ao invés de manter essa propagação da ignorância dentro de seu espaço privado, como a Mackenzie, onde eles têm todo o direito de fazê-lo, querem pô-la nas universidades públicas. Um comentário do biólogo Carl Zimmer sobre o Design Inteligente, a alternativa ''científica'' dos criacionistas à Evolução, pode ser lida aqui.

A ISTOÉ entra nessa história agora. Logo após o cancelamento desse vergonhoso evento, por parte da administração central da UNICAMP, a revista publicou numa matéria que tal cancelamento ocorreu devido à um ''grupo de ateus'', e responsabilizou, principalmente, o professor de física Leandro Tessler, autor do excelente blog cultura cientifica. Com um ridículo papinho de vítima (''Fomos boicotados por professores ateus'', ''hoje, quem discorda de Darwin é queimado na fogueira'', choramingou Rodrigo Silva), a ISTOÉ tentou convencer seus leitores de que o evento fora cancelado simplesmente por militância ateísta, e não por ser um evento completamente PSEUDOCIENTÍFICO e inadequado ao ambiente acadêmico público. A matéria finaliza com mimimi's sobre o cancelamento da palestra de Adauto Lourenço, conhecido por ser um dos mais intelectualmente desonestos negadores da Evolução e do Big Bang no Brasil, e da retirada dos cartazes da universidade na palestra de Fazale Rana sobre Design Inteligente (palestra essa que não contaria com o corpo docente de professores de ciência da universidade).

 Não é necessário dizer que o D.I. é uma das propostas mais anticientíficas já vistas: a noção de que nós fomos inteligentemente moldados, mesmo com nosso estúpido sistema digestório ligado ao respiratório e nossas dores nas costas, herança do andar quadrúpede natural (como você pode conferir aqui). O D.I. é obra de fundamentalistas cristãos que anseiam confirmar suas crenças, por meio da distorção de fatos e negação de outros, e nada mais.

 Uma última afirmação: a origem da vida pela Abiogênese e sua diversificação por meio da Evolução são hoje amplamente suportadas por uma gama de evidências, e não precisam da negação ou inexistência de deus para terem credibilidade. Não precisa ser ateu para acreditar nelas. Basta ter bom senso.


PS. Aqui está a matéria (extremamente maniqueísta) da revista ISTOÉ sobre o tal evento. Não assusta que ela esteja contribuindo para a divulgação de pseudociência. Numa matéria passada sobre milagres, a revista afirmou que os mesmos só são declarados como tal após a avaliação de uma ''bancada de teólogos e cientistas'' do Vaticano. O problema com isso é que cientista algum aceita (ou deveria aceitar) nada como milagre. O dever de um cientista é achar uma explicação natural, e crendices sobrenaturais não fazem parte deste escopo.

sábado, 5 de outubro de 2013

O que é moral? - Parte 1

 A discussão pela definição de Moral é antiga, e remonta aos primeiros filósofos. Na verdade, creio que o conceito de Moral é tão antigo quanto a organização social do Homo sapiens. Mas vamos ao que interessa: a moral pode ser definida como o conjunto de hábitos, costumes e valores de um grupo ou indivíduo. É por meio de nossa moral que classificamos as coisas como boas ou más, adequadas ou inadequadas, e por aí vai. Para entender melhor esse conceito, tome este exemplo: muitas coisas relacionadas à sexualidade são tabus em nossa sociedade, e é comum ver pessoas (especialmente mais velhas ou vindas de famílias/comunidades conservadoras) dizendo que falar de assuntos como sexo ou nudez é imoral, algo feio, reprovável, que deve ser evitado. Obviamente, nesse exemplo, a atitude de falar sobre os citados tabus é classificada como moralmente má.

 Porém a moral não é igual  para todos: ela está extremamente condicionada à culturas e situações. Muitas vezes, até indivíduos que sejam classificados de forma similar (mesma religião, mesma profissão, mesma faixa etária, etc) podem possuir sistemas morais incrivelmente diferentes. Algumas pessoas- inclusive filósofos -argumentam que a moral é objetiva (ou seja, que todos os seres humanos apresentam os mesmos valores morais básicos); que a mesma teria sido posta por Deus no homem, que se diferencia dos outros animais por ser uma criatura racional e moral. Evidentemente, esse argumento depende da crença de que o homem seja o projeto de um criador divino, e como não compartilho de tal crença, não o aceito, e portanto tentarei refutá-lo.
 
 O primeiro contra-argumento que penso existir é a enorme diferença de valores entre os grupos religiosos, que são os que mais afirmam ter uma moral divina objetiva e inata. Os cristãos católicos, por exemplo, têm milhares de santos, espécies de sub-divindades relacionadas à resolução de vários tipos de problemas (além do apadrinhamento). A ajuda deles é supostamente acessível por meio das orações, que também seriam o canal de comunicação direta com Deus, pelas quais seriam concebidos milagres e favores pedidos ao próprio Criador.

Tais coisas - a oração e a adoração de santos - são características marcantes da confissão cristã católica, e eu não vejo porquê não classificá-las como superstição (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16569567). Um exame mais minucioso das superstições será realizado mais à frente, portanto, prossigamos. Os cristãos evangélicos (e as outras denominações protestantes, em geral), ao contrário, são extremamente aversos à adoração de imagens, santos ou ''ídolos'', embora a oração possua a mesma função de canal de comunicação direta com Deus. A origem de tamanha diferença entre esses dois grandes grupos provavelmente está no antigo Império Romano, quando Constantino decidiu unificar seu território transformando o cristianismo na religião oficial do Estado. Uma série de características das religiões pagãs(como as subdivindades, o nascimento em 25 de dezembro, o natal etc) provavelmente foi englobada ao cristianismo nesse período, talvez por meio do sincretismo. Uma situação parecida pôde ser observada aqui no Brasil, quando os escravos cultuavam seus deuses através das imagens dos santos católicos, mixando suas características. Muito tempo depois da unificação do Império Romano, homens como Martinho Lutero e William Tyndale, insatisfeitos com algumas doutrinas da Igreja Católica, tentaram traduzir a Bíblia para seus idiomas, atos que deram origem à um novo segmento cristão, marcado pela moralidade hebraica do Antigo Testamento, principalmente a adoração exclusiva à Jesus e seu pai, Jeová.

 Em resumo, mesmo numa única religião, que adora ao mesmo deus, a diferença de valores é gritante. Observando de maneira mais geral, poderemos ver o quanto é heterogêneo o conjunto moral das várias religiões: enquanto que os hebreus, por exemplo, abominam a homossexualidade, os gregos (ou melhor, os atenienses) viam-na de forma extremamente natural. Ambos acreditavam que o ser humano havia sido criado por um deus.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A resposta de Andre Comte-Sponville ao dilema de Dostoiévski

O escritor russo Fiódor Dostoiévski é famosamente conhecido pela frase de seu personagem mau-caráter Ivan Karamazov, no romance Irmãos Karamazov: ''Se deus não existe, tudo é permitido''.  Dois filósofos contemporâneos, Andre Comte-Sponville e Michel Onfray, responderam ao dilema que surgiu a partir dessa pergunta: Se deus não existe, tudo é permitido? A seguir, vem a resposta de Andre. Deixarei a resposta de Michel Onfray para depois, pois ela migra para um ponto que é interessante abordar de outra forma.

''Não muda em nada, em pouco ou quase nada(...)não é porque você perdeu a fé que você vai trair seus amigos, roubar ou estuprar, assassinar ou torturar. 'Se deus não existe, tudo é permitido?', como disse o personagem de Dostoiévski? Claro que não, já que não me permito tudo! A moral é autônoma-como demonstra Kant-ou não é moral. Quem só se impedisse de matar por medo de uma sanção divina teria um comportamento sem valor moral-seria apenas uma prudência, um medo do policial divino, egoísmo. Quanto à quem só faz o bem para sua salvação, não faria o bem, já que agiria por interesse e não por dever ou por amor, e não seria salvo. É o ápice de Kant, das luzes e da humanidade: Não é por que deus me ordena alguma coisa que está certo, porque nesse caso poderia ter sido certo para Abraão matar seu filho. É porque uma ação é boa que é possível acreditar que ela é ordenada por deus. Não é mais a religião que funda a moral: é a moral que funda a religião; É onde começa a modernidade. Ter uma religião-diz a Crítica da Razão Prática-é reconhecer todos os deveres como mandamentos divinos. Para os que não tem ou deixaram de ter fé, já não há mandamentos, ou já não são divinos. Restam os deveres, que são os mandamentos que impomos à nós mesmos''.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Meu Professor de História Mentiu Pra Mim: mais uma página do facebook espalhando merda pela internet



Nêgo disse que a inquisição foi um marco civilizatório e humanista na jurisprudência da idade média. Vamos ver o que o padre Friedrich Von Spee tem a dizer sobre o processo de julgamento na inquisição? Trecho de ''Cautio Criminalis'':
''1. Por incrível que pareça, entre nós, alemães, e especialmente
(envergonha-me dizê-lo) entre católicos, há superstições populares, inveja,
calúnias, difamações, insinuações e similares que, ao não ser punidas nem
refutadas, levantam a suspeita de bruxaria. Já não é Deus ou a natureza,
as bruxas são as responsáveis por tudo.
2. Por isso, ergue-se um clamor da população para que os magistrados investiguem às
bruxas... a quem só a intriga popular tem feito tão numerosas.
3. Os príncipes, em conseqüência, pedem a seus juizes e conselheiros que
abram os processos contra as bruxas.
4. Os juizes mal sabem por onde começar, pois não têm evidência ou prova.
5. Enquanto isso, as pessoas consideram suspeita essa demora; e os príncipes são persuadidos disso por um ou outro informante.
6. Na Alemanha, ofender a estes príncipes é um sério delito; até os
sacerdotes aprovam o que possa lhes agradar sem preocupar-se de quem
instigou aos príncipes (por muito bem intencionados que sejam).
7. Ao final, portanto, os juizes cedem a seus desejos e conseguem começar
os julgamentos.
8. Os juizes que se atrasam, temerosos de ver-se envoltos em assunto tão
espinhoso, recebem um investigador especial. Neste campo de investigação,
toda a inexperiência ou arrogância que se aplique à tarefa se considera zelo da
justiça. Este zelo também se vê estimulado pela expectativa de benefício,
especialmente para um agente pobre e avaro com uma família numerosa,
quando recebe como estipêndio tantos dólares por cabeça de bruxa queimada,
além das taxas incidentais e gratificações que os agentes instigadores têm
licença para arrancar a prazer daqueles aos que convocam.
9. Se os delírios de um louco ou algum rumor malicioso e ocioso
(porque não se necessita nunca uma prova do escândalo) apontam para alguma
pobre mulher inofensiva, ela é primeira em sofrer.
10. Entretanto, para evitar a aparência de que a acusa unicamente sobre a
base de um rumor, sem outras provas, obtém-se uma certa presunção de
culpabilidade ao expor o seguinte dilema: ou levou uma vida má e imprópria,
ou levou uma vida boa e própria. Se for má, deve ser culpada. Por outro lado,
se sua vida foi boa, é igual de imperdoável; porque as bruxas sempre disfarçam
com o fim de aparecer especialmente virtuosas.
11. Assim, a velha é encarceirada na prisão. Encontra-se uma nova prova
mediante um segundo dilema: ela tem medo ou não. Se o tiver (ouvindo falar das horríveis torturas que se utilizam contra as bruxas), é uma prova
segura; porque sua consciência a acusa. Se não mostrarmedo (confiando em
sua inocência), também é uma prova; porque é característico das bruxas simular
inocência e levar a frente alta.
12. Para que estas não sejam as únicas provas, o investigador faz que
seus detetives, freqüentemente depravados e infames, vasculhem em sua vida
anterior. Isto, certamente, não pode fazer-se sem que apareça alguma frase ou
ato da mulher que homens tão bem dispostos possam torcer ou distorcer para
convertê-lo em prova de bruxaria.
13. Qualquer pessoa que lhe queira mal agora tem grandes oportunidades de
fazer contra ela as acusações que deseje; e todo mundo diz que as evidências contra
ela são consistentes.
14. E assim apressa-se o caminho à tortura, a não ser, como acontece freqüentemente, que seja torturada no mesmo dia de sua detenção.
15. Nesses julgamentos não se permite a ninguém ter advogado nem
qualquer meio de defesa justa porque a bruxaria se considera um delito
excepcional [de tal enormidade que se podem suspender todas as normas legais
de procedimento], e quem se atreve a defender à prisioneira cai sob suspeita de
bruxaria pessoalmente... assim como os que ousam expressar um protesto
nestes casos e apressam aos juizes a exercitar a prudência, porque a partir de
então recebem o qualificativo de defensores da bruxaria. Assim, todo
mundo se cala por medo.
16. A fim de que possa parecer que a mulher tem uma oportunidade de
defender-se a si mesmo, levam-na ante o tribunal e se procede a ler e examinar
—se é que se pode chamar assim— os indícios de sua culpa.
17. Até no caso que negue essas acusações e responda adequadamente a
cada uma delas, não lhe emprestam atenção e nem sequer anotam suas
respostas; todas as acusações retêm sua força e validade, por mais perfeitas que
sejam as respostas (da réu). Ela é mandada de volta à prisão, para considerar mais cuidadosamente se vai persistir em sua obstinação- pois, como já negou sua culpa, ela é obstinada.
18. Ao dia seguinte, ela volta a comparecer no tribunal e ouve uma ordem de tortura- como se ela nunca tivesse refutados as acusações.
19. Antes da tortura, entretanto, ela é revistada para verificarem se não tem amuletos; todo o seu corpo é raspado, e mesmo as partes privadas que indicam o sexo femino são lascivamente examinadas.
20. O que há de tão chocante nisso? Os padres são tratados da mesma maneira.
21. Quando a mulher foi raspada e revistada, torturam-na para lhe fazer
confessar a verdade, quer dizer, para que declare o que eles querem, porque
naturalmente não há outra coisa que seja nem possa ser a verdade.
22. Começam com o primeiro grau, quer dizer, a tortura menos grave.
Embora excessivamente severa, é suave comparada com as que seguirão. Assim, se
confessar, dizem que a mulher confessou sem tortura!
23. Ora, que príncipe pode duvidar da culpa da mulher, quando lhe informam que ela confessou sem tortura?
24. Assim ela é condenada à morte sem escrúpulos. Mas a teriam executado
mesmo que não tivesse confessado; porque, assim que a tortura começou, os dados estão lançados; não pode escapar, tem que morrer à força.
25. O resultado é o mesmo tanto se confessar como se não. Se confessar,
sua culpa é clara: é executada. Qualquer retratação é em vão. Se não confessar,
a tortura se repete: dois, três, quatro vezes. Em delitos excepcionais, a tortura
não tem limite de duração, severidade ou freqüência.
26. Se, durante a tortura, a velha distorce as feições de dor, dizem
que ela está rindo; se desmaia, é que está dormindo ou enfeitiçou a si própria, tornando-se taciturna. E, se é taciturna, merece ser queimada viva, como ultimamente tem sido feito com algumas que, embora torturadas várias vezes, não se dispuseram a dizer o que os investigadores queriam ouvir.
27. E até os professores e os padres concordam que ela morreu obstinada e
impenitente; que não quis se converter,nem abandonar seu íncubo, mantendo-se fiel à ele.
28. Entretanto, se ela morre de tanta tortura, dizem que o diabo quebrou-lhe
o pescoço.
29. Por isso, o cadáver é enterrado debaixo da forca.
30. Por outro lado, se ela não morre sob tortura e se algum juiz
excepcionalmente escrupuloso hesita em torturá-la mais sem maiores provas ou
queimá-la sem confissão, mantêm-na na prisão e a encadeiam com a máxima
dureza para que apodreça até que ceda, embora possa passar um ano inteiro.
31. Ela nunca consegue se ver livre das acusações. O comitê investigador cairia em
desgraça se absolvesse uma mulher; uma vez presa e acorrentada, ela tem que ser
culpado, por meios justos ou infames.
32. Enquanto isso, sacerdotes ignorantes e teimosos atormentam a infeliz
criatura a fim de que, seja certo ou não, ela se confesse culpada; se não confessar, dizem eles, não poderá ser salva, nem receber os sacramentos.
33. Sacerdotes mais compreensivos ou cultos não podem visitá-la no
cárcere para evitar que lhe dêem conselho ou informem aos príncipes do que
ocorre. O mais temível é que apresentem algo que demonstre a inocência da
acusada. Quem tenta tal coisa é chamado de criador de encrenca.
34. Enquanto a mantêm na prisão e sob tortura, os juizes inventam
estratagemas inteligentes para reunir novas provas de culpa que a condenem sem sombra de dúvida de modo que, ao revisar o julgamento, um professor de
universidade possa confirmar que ela devia ser queimada viva.
35. Há juizes que, para aparentar uma escrupulosidade suprema, fazem
exorcizar à mulher, transferem-na à outra parte e voltam à torturá-la, para
romper seu silêncio; se ela continua calada, eles podem finalmente queimá-la.
Agora bem, em nome do Céu, eu gostaria de saber: já que a que confessa e a que não confessa morrem ambas do mesmo modo, como pode escapar alguém por mais
inocente que seja? Oh mulher infeliz, por que concebeste esperanças precipitadas?
Por que, ao entrar no cárcere, não admitiu em seguida tudo o que eles queriam? Por
que, mulher insensata e louca, desejou morrer tantas vezes quando poderia ter
morrido só uma? Segue meu conselho e, antes de suportar todos estes maus,
declare-se culpada e morra. Você não escapará, porque isso seria uma desgraça
catastrófica para o zelo da Alemanha.
36. Depois que, sobre o estresse da dor, a bruxa confessou, sua situação é
indescritível. Não só não pode escapar, mas também também se vê obrigada a
acusar a outras que não conhece, cujos nomes são frequentemente colocados em sua
boca pelos investigadores ou sugeridos pelo carrasco, ou pessoas de quem ouviu falar como suspeitas ou acusadas. Essas, por sua vez, se vêem forçadas a acusar a outras, e essas, a outras, e assim sucessivamente: quem não vê que o processo continuará infinitamente?
37. Os juizes devem suspender esses julgamentos (e assim negar sua
validez) ou então queimar seu próprio povo, a eles mesmos e a todos os demais; porque todos, antes ou depois, são acusados falsamente; e, depois da tortura, sempre se demonstra que são culpados.
38. Assim, finalmente, aqueles que primeiro levantaram bem alto a sua voz para alimentar as chamas acabam eles próprios, pois precipitadamente deixaram de ver que a sua vez também chegaria. Assim, o céu pune justamente aqueles que com suas línguas pestilentas criaram tantas bruxas e enviaram tantos inocentes para a fogueira...''

Pois é, né. Só que o Spee não deixa clara os métodos de tortura que eram usados na inquisição. Para isso, vamos ler um pouco do livro The encyclopedia of witchcraft and demonology, de Russel Hope Robbins:
''Pode-se dar uma olhada em algumas das torturas especiais em Bamberg: por exemplo, fazer a acusada ingerir a força arenques cozidos com sal e depois negar-lhe água- um método sofisticado, empregado lado a lado com a imersão da acusada em banhos de água escaldante a que fora acrescentada cal. Outras maneiras de torturar as bruxas compreendiam o cavalo de madeira, vários tipos de rodas, a cadeira de ferro incandescente, os tornos para as pernas (botas espanholas), e grandes botas de couro ou metal em que se despejava água fervendo e chumbo derretido (com os pés dentro, é claro). Na tortura da água, question de l'eau, despejava-se água pela garganta da acusada, junto com um pano macio para que ela engasgasse. O pano era rapidamente puxado para fora, de moda a dilacerar as entranhas da garganta da torturada. Os anjinhos (grésillons) eram um torno destinado a comprimir o polegar e o dedão do pé até a raíz da unha, para que o esmagamento do dedo causasse uma dor excruciante''.

E tudo isso aí com a bênção da ICAR, que só aboliu a tortura inquisitorial em 1816, enquanto a Holanda, berço do iluminismo, realizou a última execução por bruxaria em 1610. Que diferença, hein? Pois é. E ainda dizem por aí que a inquisição foi um marco humanista na história da humanidade e da idade média.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O problema da educação robotizadora

 Semana passada, eu li uma passagem do livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios, de Carl Sagan, na qual o autor reclamava que os jovens, por um motivo que ainda não sabemos explicar direito, perdem a curiosidade e as dúvidas, que existem à beça na infância. O escritor tcheco Milan Kundera, em seu livro A Insustentável Leveza do Ser, afirma que  as perguntas mais fundamentais são justamente aquelas feitas pelas crianças. O que acontece com nossos jovens? Que mudança é essa que os transforma de pequenos seres humanos cheios de dúvidas e questionamentos sobre o mundo à adultos e adolescentes autômatos, satisfeitos com respostas insuficientes (E/ou equivocadas) sobre o mundo, vivendo como robôs automáticos, sem se questionar sobre questões tão importantes (Ou que, ao menos parar mim, parecem importantes.Talvez seja porque eu não tenha um deus das lacunas para preencher esse vazio...), tais como a origem da vida e do universo?

 Eu gostaria de expôr aqui aquilo que, na minha opinião, é a principal causa disso: a educação robotizadora. Deixe-me explicar melhor: Desde pequenos, fazemos perguntas que nossos pais raramente conseguem responder sem constrangimento. ''De onde eu vim?'',''De onde nós viemos?'', ''Por quê isso é assim?'',''Por quê aquilo é assado?'' e suas variações são exemplo disso. Os pais, que não sabem respondê-los de forma correta, dizem coisas como  ''Deixa de pergunta besta, menino!'' e por aí vai. As crianças vão criando a noção de que a curiosidade é algo ruim, e que não se deve fazer perguntas, deve-se apenas obedecer. A coisa só piora na escola: somos apresentados à uma grande gama de conhecimentos, que simplesmente nos dizem estar corretos, sem nos explicar o porquê (Apesar do rigoroso processo de seleção que existe para a construção do material de estudos). Os professores, muitas vezes, transmitem o assunto de forma desinteressante, tornando-o um fardo na cabeça do aluno, que preferia dez mil vezes assistir a novela do que aprender como funciona a mecânica newtoniana, por exemplo. Os alunos não se interessam no conteúdo, apesar do mesmo ser uma forma de compreender a realidade, e ao invés de aprendê-lo, para usá-lo como ferramenta de entendimento, apenas o decoram para tirar um 7 na prova, sem nem ao menos questionar sua validade. E fim. Nada mais.
 O aluno passa a funcionar como um dos operários no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin: torna-se mais uma máquina que funciona recebendo e depositando informações do que como uma pessoa que interage com o conhecimento. Eu também sou ''vítima'' desse problema: numa apresentação recente de filosofia, sobre Descartes, li um slide sobre as ''provas'' da existência de deus segundo Descartes. Uma das frases do slide era ''O ser pensante não pode ter sido o criador de si próprio, pois se o tivesse feito seria perfeito e não imperfeito. Portanto só a perfeição divina pode ter criado o homem (ser imperfeito)''. Claro que eu poderia argumentar no meio da leitura que desde 1859, graças ao tio Darwin, nós já sabemos muito bem que os seres vivos não precisam de um criador, mas nem pensei nisso: agi no automático, servindo só como uma via de informação, sem me importar em criticar. É ai que está o problema: próximo do fim do ensino fundamenta e durante o ensino médio, os conteúdos que o aluno recebe em sala são apenas ''enchimento de linguiça'', transmitidos para que o aluno passe no ENEM  e ponto final. Poucos tem prazer em aprender ciência- logo ela, essa linda! -, tampouco querem aprender literatura, ou filosofia, ou história, e por ai vai. E estão justificados!  Poucos colégios mantêm aulas práticas de física ou química, com demonstrações experimentais do assunto que está sendo aplicado. Nas aulas de matemática, não se mostra como o universo obedece à geometria euclidiana, ou que a sequência de Fibonacci está nas coisas que consideramos mais harmônicas esteticamente. Em biologia, já não estudamos teorias de origem da vida, nem os fabulosos dinossauros (Há algum tempo, uma amiga que gosto muito disse que não acreditava em dinossauros. ''Muita fantasia pra mim'', disse ela, ou algo do tipo). Em filosofia, tudo se resume à nóias metafísicas antipáticas. Onde está a filosofia política de Maquiavel, ou o descontrutivismo de um Derrida? Em inglês, onde estão os fantásticos textos de Shakespeare? Tudo se resume à regras e regras gramaticais, sem que você sequer aprenda a pronunciar um ''What a beautiful sunset!''. 
Tudo isso contribui para que ir à escola seja a experiência mais chata do universo. E a chave para resolver esse problema é simples: tornar o conteúdo apresentado mais interessante. Que aluno não ficaria animado para apresentar um seminário de física  sobre a incrível variabilidade de estrelas e planetas da nossa e de outras galáxias? Qual o aluno que não gostaria de ouvir, nas aulas de filosofia, como Sócrates, com sua retórica Hitchensiana, refutou Trasímaco (que havia dito que, numa sociedade de gente boazinha, era melhor ser malandro e fdpzar com todo mundo só pra se dar bem)? Ou das tretas de Francis Bacon com o amigo que liderava uma oposição contra a rainha? Quem não ficaria extasiado ao saber que a matéria que compõe nossos corpos fora forjada no interior das estrelas de muito tempo atrás? Nenhum. Mas não basta simplesmente dizer isso ao aluno. Trazer experiências, documentos e livros, debater com a turma sobre determinadas questões controversas sobre conteúdo, perguntar aos alunos se eles tem alguma pergunta à fazer sobre a área em que o professor é formado (Graças à uma substituição recente de material de estudo, minha turma ficou sem ver teorias de origem da vida e genética em biologia, por exemplo. Não houve quase ninguém pedindo ao professor que nos ensinasse isso depois, em uma aula à tarde. E olha que são dois assuntos incríveis, não só necessários ao aluno que prestará ENEM e vestibulares como também incríveis auxiliares na busca da compreensão dos mistérios que envolvem nossos organismos). Talvez seja hora de repensar se o nosso velho método de ensinar é adequado, e se não é melhor fazer como os antigos gregos: andar por aí discutindo as perguntas mais fundamentais sobre o homem e o mundo...

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A anti-ciência do lobby do D.I

                            OS LIMITES DA CIÊNCIA



Incapazes de montar um argumento científico eficiente, os defensores do Projeto Inteligente e das formas mais antigas de criacionismo recorrem à retórica. Eles afirmam, por exemplo, que a evolução é na verdade uma ideologia, nascida de um culto ao naturalismo, que afirma que Deus não tem função no universo e que os eventos possuem apenas causas naturais. Os darwinistas “aderiram ao mito a partir do interesse próprio e do desejo de eliminar Deus”, escreve Phillip Johnson, um professor de direito e criacionista confesso. Johnson afirma que os biólogos evolutivos se recusam a considerar a possibilidade de que uma intervenção sobrenatural tenha influenciado o universo e estão cegos diante das fraquezas da evolução. Em uma audiência justa – na qual a intervenção divina pudesse ser considerada uma explicação possível para a história da vida –, Johnson afirma que o criacionismo venceria.


No entanto a ciência, tome ela a forma da química, da física ou da biologia evolutiva, só pode explicar as regularidades do mundo. Se deus mudasse a massa do próton a cada manhã, seria impossível para os físicos fazer qualquer previsão sobre como os átomos funcionam. O método científico não afirma que os acontecimentos só podem ter causas naturais, mas que as únicas causas que podemos entender, cientificamente, são as naturais. E por mais poderoso que possa ser o método científico, ele é mudo a respeito de coisas além de sua área. Forças sobrenaturais estão, por definição, acima das leis da natureza e assim estão além do objetivo da ciência.


Johnson e outros criacionistas dirigem sua fúria contra a biologia evolutiva, mas na verdade estão atacando todos os ramos da ciência. Quando os microbiólogos estudam um surto de tuberculose resistente, eles não pesquisam a possibilidade de que seja um ato de deus. Quando os astrofísicos tentam determinar a sequência de eventos pela qual uma nuvem primordial condensou-se em nosso sistema solar, eles não desenham simplesmente uma caixa-preta entre a nuvem e os planetas formados e escrevem dentro dela: “Aqui aconteceu um milagre.” Quando os meteorologistas não conseguem prever o rumo de um furacão, eles não afirmam que deus tirou a tormenta do seu curso.


A ciência não pode simplesmente entregar o desconhecido na natureza ao divino. Se o fizer, não restará ciência alguma. Como diz o geneticista Jerry Coyne, da Universidade de Chicago, “se a história da ciência nos mostra alguma coisa, é que não vamos à parte alguma chamando nossa ignorância de ‘Deus’”.


A “ciência da Criação” não influencia de modo algum a forma como os cientistas praticantes estudam a história da vida. Os paleontólogos continuam a descobrir fósseis importantes para o nosso entendimento de como os humanos, as baleias e outros animais surgiram. Os biólogos desenvolvimentistas continuam a listar a sinfonia dos genes construtores de embriões para entender como aconteceu a explosão cambriana. Os geoquímicos continuam a descobrir pistas isotópicas sobre quando a vida apareceu pela primeira vez na Terra. E os virologistas continuam a descobrir estratégias que vírus, como o HIV, usam para vencer seus hospedeiros. Para todos eles a biologia evolutiva, e não o criacionismo, permanece sendo a fundação de seu trabalho.


No entanto, apesar de seu fracasso como ciência, os criacionistas continuam tentando, tão tenazmente como sempre, obter o controle do modo como as escolas públicas americanas ensinam ciência. [...]






Fonte: ZIMMER, Carl. O Livro de Ouro da Evolução. Traduzido por Jorge Luis Calife. Rio de Janeiro: Ediouro. p.520-522, 1998.

terça-feira, 16 de julho de 2013

As justificativas dos homofóbicos contra a aprovação do casamento gay

 No Brasil, muito se tem discutido a legalidade da união homo-afetiva. De um lado, pessoas defendendo seus direitos e outras que as apoiam; de outro, pessoas defendendo suas opiniões e suas crenças.

 Uma das justificativas mais citadas por aqueles que se opõem à aprovação do casamento gay é a  suposta incapacidade de dois homossexuais de constituírem uma família. Segundo alguns deles (os que se opõem), jamais houve um modelo de família baseado na união de dois indivíduos do mesmo sexo. Primeiro, e como Karl Popper poderia dizer, como é possível afirmar categoricamente que jamais houve tal modelo, na enorme história da humanidade? Seria preciso conhecer todas as sociedades que já existiram, e isso é, senão impossível, no mínimo improvável. E já na Grécia antiga, pessoas como o filósofo Zenão de Cítio, fundador do estoicismo, acreditavam que nós deveríamos procurar nossos parceiros e conjugues antes por características como empatia e afetividade do que por condição financeira ou gênero (sexo) do indivíduo. Estudiosos sugerem que a união homo-afetiva é tão (ou mais) estável que a união heteroafetiva. Pesquisas [1] sugerem também que as crianças criadas por casais gays são tão felizes quanto as criadas por casais de pessoas de sexos opostos. Segundo os pesquisadores, ''
As preocupações sobre os efeitos potencialmente negativos para as crianças de serem criados com pais gays parecem ser, pelo nosso estudo, improcedentes''. Há rumores de que os casais gays são inclusive mais exigentes com o desempenho escolar de seus filhos que os casais ''comuns''. Uma união estável, com crianças felizes e bem educadas. Isso não é uma família?

 A oposição evoca também sua crença de que a homossexualidade seria uma opção, um comportamento, que não seria ''de nascença''. A hipótese de que alguém escolheria ser gay em uma sociedade como a nossa é ridícula, e isso é auto-evidente. Entretanto, assim como a hipótese de que homossexualidade é comportamento, a da opção ainda perdura na mente das pessoas. Oras, poderiam adeptos de uma simples escolha ou comportamento terem, graças à tais, cérebros fisicamente mais parecidos com os do sexo oposto? [2] Poderiam eles apresentar diferenças cruciais no funcionamento do cérebro para com suas contrapartes heterossexuais? [3] Poderiam os gays masculinos, se homossexualidade fosse escolha ou comportamento, ser mais sensíveis à androsterona (um elemento do odor masculino) do que homens heterossexuais? [4] Sobre a frase ''homossexualidade não é de nascença'', é difícil entender o que ela quer dizer. Os canhotos, por exemplo, não nascem canhotos, mas o ''canhotismo'' tem fatores genéticos.

 A legalização da união homoafetiva é, sim, uma questão de direitos iguais, e por mais que pessoas como Feliciano e Malafaia gritem e esperneiem, não conseguirão evitar o progresso. As justificativas para seus preconceitos, de bases tão frágeis, desabam por conta própria.

[1] https://www.childwelfare.gov/pubs/f_gay/f_gay.pdfhttp://cms.bsu.edu/-/media/WWW/DepartmentalContent/CounselingCenter/PDFs/SAFEZONE%20Resources/Children%20of%20gays%20and%20Lesbians.pdfhttp://www.cambridge-news.co.uk/Health/Family/Children-as-happy-with-gay-parents-research-06032013.htm

[2] http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL602802-5603,00-HOMEM+GAY+TEM+CEREBRO+FEMININO+COMPROVA+ESTUDO.html,
http://veja.abril.com.br/250608/p_168.shtml

[3] http://www.pnas.org/content/105/27/9403.abstract, Bocklandt, Sven, and Eric Vilain. "Sex Differences in Brain and Behavior: Hormones Versus Genes." Advances in Genetics 59 (2007): 245--266. doi:10.1016/S0065-2660(07)59009-7.

[4] Lübke, Katrin, Sylvia Schablitzky, and Bettina M. Pause. "Male Sexual Orientation Affects Sensitivity to Androstenone." Chemosensory Perception 2, no. 3 (September 1, 2009): 154--160. doi:10.1007/s12078-009-9047-3.