sábado, 5 de outubro de 2013

O que é moral? - Parte 1

 A discussão pela definição de Moral é antiga, e remonta aos primeiros filósofos. Na verdade, creio que o conceito de Moral é tão antigo quanto a organização social do Homo sapiens. Mas vamos ao que interessa: a moral pode ser definida como o conjunto de hábitos, costumes e valores de um grupo ou indivíduo. É por meio de nossa moral que classificamos as coisas como boas ou más, adequadas ou inadequadas, e por aí vai. Para entender melhor esse conceito, tome este exemplo: muitas coisas relacionadas à sexualidade são tabus em nossa sociedade, e é comum ver pessoas (especialmente mais velhas ou vindas de famílias/comunidades conservadoras) dizendo que falar de assuntos como sexo ou nudez é imoral, algo feio, reprovável, que deve ser evitado. Obviamente, nesse exemplo, a atitude de falar sobre os citados tabus é classificada como moralmente má.

 Porém a moral não é igual  para todos: ela está extremamente condicionada à culturas e situações. Muitas vezes, até indivíduos que sejam classificados de forma similar (mesma religião, mesma profissão, mesma faixa etária, etc) podem possuir sistemas morais incrivelmente diferentes. Algumas pessoas- inclusive filósofos -argumentam que a moral é objetiva (ou seja, que todos os seres humanos apresentam os mesmos valores morais básicos); que a mesma teria sido posta por Deus no homem, que se diferencia dos outros animais por ser uma criatura racional e moral. Evidentemente, esse argumento depende da crença de que o homem seja o projeto de um criador divino, e como não compartilho de tal crença, não o aceito, e portanto tentarei refutá-lo.
 
 O primeiro contra-argumento que penso existir é a enorme diferença de valores entre os grupos religiosos, que são os que mais afirmam ter uma moral divina objetiva e inata. Os cristãos católicos, por exemplo, têm milhares de santos, espécies de sub-divindades relacionadas à resolução de vários tipos de problemas (além do apadrinhamento). A ajuda deles é supostamente acessível por meio das orações, que também seriam o canal de comunicação direta com Deus, pelas quais seriam concebidos milagres e favores pedidos ao próprio Criador.

Tais coisas - a oração e a adoração de santos - são características marcantes da confissão cristã católica, e eu não vejo porquê não classificá-las como superstição (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16569567). Um exame mais minucioso das superstições será realizado mais à frente, portanto, prossigamos. Os cristãos evangélicos (e as outras denominações protestantes, em geral), ao contrário, são extremamente aversos à adoração de imagens, santos ou ''ídolos'', embora a oração possua a mesma função de canal de comunicação direta com Deus. A origem de tamanha diferença entre esses dois grandes grupos provavelmente está no antigo Império Romano, quando Constantino decidiu unificar seu território transformando o cristianismo na religião oficial do Estado. Uma série de características das religiões pagãs(como as subdivindades, o nascimento em 25 de dezembro, o natal etc) provavelmente foi englobada ao cristianismo nesse período, talvez por meio do sincretismo. Uma situação parecida pôde ser observada aqui no Brasil, quando os escravos cultuavam seus deuses através das imagens dos santos católicos, mixando suas características. Muito tempo depois da unificação do Império Romano, homens como Martinho Lutero e William Tyndale, insatisfeitos com algumas doutrinas da Igreja Católica, tentaram traduzir a Bíblia para seus idiomas, atos que deram origem à um novo segmento cristão, marcado pela moralidade hebraica do Antigo Testamento, principalmente a adoração exclusiva à Jesus e seu pai, Jeová.

 Em resumo, mesmo numa única religião, que adora ao mesmo deus, a diferença de valores é gritante. Observando de maneira mais geral, poderemos ver o quanto é heterogêneo o conjunto moral das várias religiões: enquanto que os hebreus, por exemplo, abominam a homossexualidade, os gregos (ou melhor, os atenienses) viam-na de forma extremamente natural. Ambos acreditavam que o ser humano havia sido criado por um deus.

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