O escritor russo Fiódor Dostoiévski é famosamente conhecido pela frase de seu personagem mau-caráter Ivan Karamazov, no romance Irmãos Karamazov: ''Se deus não existe, tudo é permitido''. Dois filósofos contemporâneos, Andre Comte-Sponville e Michel Onfray, responderam ao dilema que surgiu a partir dessa pergunta: Se deus não existe, tudo é permitido? A seguir, vem a resposta de Andre. Deixarei a resposta de Michel Onfray para depois, pois ela migra para um ponto que é interessante abordar de outra forma.
''Não muda em nada, em pouco ou quase nada(...)não é porque você perdeu a fé que você vai trair seus amigos, roubar ou estuprar, assassinar ou torturar. 'Se deus não existe, tudo é permitido?', como disse o personagem de Dostoiévski? Claro que não, já que não me permito tudo! A moral é autônoma-como demonstra Kant-ou não é moral. Quem só se impedisse de matar por medo de uma sanção divina teria um comportamento sem valor moral-seria apenas uma prudência, um medo do policial divino, egoísmo. Quanto à quem só faz o bem para sua salvação, não faria o bem, já que agiria por interesse e não por dever ou por amor, e não seria salvo. É o ápice de Kant, das luzes e da humanidade: Não é por que deus me ordena alguma coisa que está certo, porque nesse caso poderia ter sido certo para Abraão matar seu filho. É porque uma ação é boa que é possível acreditar que ela é ordenada por deus. Não é mais a religião que funda a moral: é a moral que funda a religião; É onde começa a modernidade. Ter uma religião-diz a Crítica da Razão Prática-é reconhecer todos os deveres como mandamentos divinos. Para os que não tem ou deixaram de ter fé, já não há mandamentos, ou já não são divinos. Restam os deveres, que são os mandamentos que impomos à nós mesmos''.
Nenhum comentário:
Postar um comentário