segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Discurso

 ''O orgulho nacional é, para os países, o que a auto-estima é para os indivíduos: uma condição necessária para o auto-aperfeiçoamento'', disse o filósofo norte-americano Richard Rorty em seu livro Achieving Our Contry, e sinto que devo concordar com ele. Somente quando um povo se orgulha de si como nação, quando possui uma imagem inspiradora de seu país, é que este pode progredir, pois é quando o povo, na exigência de melhorias imediatas, faz seus governantes trabalharem em prol da população.

 Para compreender melhor isso, basta lembrar das manifestações de meados de 2013: quando questionados e pressionados pelo povo, os governantes imediatamente agiram, atendendo às requisições feitas. As manifestações, ainda que marcadas por um triste antipartidarismo (que é infelizmente compreensível, graças aos escândalos de corrupção que se ouve todo dia), foram palco de um belo nacionalismo, de identificação do cidadão com um algo maior, algo que rompe as barreiras do preconceito racial, sexual ou regional, que exalta as semelhanças ao invés das diferenças.

 Nós, brasileiros, estamos acostumados a ter uma visão negativa do nosso país. Séculos tristes compostos por escravidão, ditadura, corrupção e subdesenvolvimento não sairão tão cedo das nossas memórias. Nós desenvolvemos um angustiante complexo de inferioridade, e tudo passou a parecer melhor do que aquilo que o Brasil tem a oferecer -sejam as condições de alimentação em Cuba, seja o desenvolvimento de um EUA ou Japão. O problema desse sentimento é que ele impede o nosso progresso: começamos a acreditar que as coisas JAMAIS mudarão, que NENHUMA atitude pode ajudar o país, que NADA adiantará para transformá-lo... E este sentimento precisa de um basta.

 Nós esquecemos que também possuímos nossas pequenas glórias, nossas vitórias. Esquecemos que foi a nossa força como população que deu fim à ditadura. Esquecemos que nosso povo é famoso, no exterior, como um povo trabalhador, alegre e acolhedor. Esquecemos que é mérito do nosso governo a criação de um programa que tirou milhões da miséria, com um mínimo gasto do PIB -programa esse que agora é elogiado pela ONU e indicado para outros países. Como qualquer outra nação, a nossa  apresenta altos e baixos, ainda que talvez os baixos superem os altos. Nossos resultados em educação ainda são ruins, é verdade. A desigualdade econômica causa pena. O estado da saúde pública é de causar vergonha. Mas nós nos encontramos numa situação muito melhor que a de tempos anteriores. Nós progredimos, e caso se estudem os detalhes dessas mudanças progressistas, ver-se-á que um forte desejo de melhorar as condições de vida do povo brasileiro está enraizado em cada uma delas. E é esse mesmo desejo que devemos carregar para as urnas nas eleições de 2014(e não só nelas), para de fato melhorar o país.

 Espero que não confundam esse discurso com o discurso ufanista da ditadura militar. Os militares invocaram o nome da nação para dar a luz à um regime violento, opressor, catastrófico. O orgulho nacional que eu exalto aqui é outra coisa: trata-se de uma paixão pelo ideal da democracia, pela inclusão das camadas oprimidas, pelo direito à livre-expressão, pela redução da desigualdade econômica. Trata-se de uma fé fervorosa no país -uma fé sem dogmas e sem superstições, porém.

 O meu desejo, ou melhor, o meu pedido à todos aqueles que leram ou ouviram esse discurso é o seguinte: despertem para o seu país, para o seu povo. Por algum tempo, abandonem as futilidades -o consumo alienado, a procrastinação- e preocupem-se com a nossa situação. Encham seus corações com o mesmo desejo flamejante que moveu todos aqueles cidadãos que, na década de 80, ressuscitaram a democracia tupiniquim. Pintem suas caras, façam faixas, visitem sindicatos, entrevistem políticos, definam suas causas e vão às ruas. O ano de 2013 mostrou que o povo brasileiro, com razão, não está satisfeito com o estado de seu país. Somente novas manifestações, unida à uma verdadeira politização da população, será capaz de trazer as mudanças necessárias.

 O gigante ainda não acordou, mas podemos ter certeza que isso acontecerá quando ele sentir o calor dentro de seu peito -quando ele sentir que a paixão do povo brasileiro por seu país é maior que seus problemas, e que ela pode resolvê-los.

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