sexta-feira, 21 de julho de 2017

Desemprego, o perigo que ameaça nosso futuro (e como poderemos evitá-lo)


Foto de Joel Silva/Folhapress


 Segundo dados oficiais, o primeiro trimestre deste ano terminou com o desemprego aberto -- isto é, excluindo todos aqueles que desistiram de procurar empregos e/ou estão no ''desemprego disfarçado'', como atividades informais de todo tipo -- no triste número de 14,2 milhões de pessoas, com a taxa de 13,7% [1]. Entre os jovens, a taxa sobre para mais de 25% [2, 3]. 

 São, sem dúvidas, números lamentáveis para nós, estudantes. Mais que lamentáveis: perigosos. Porque significam que, quando nos graduarmos, teremos enorme dificuldade de encontrar emprego, dado que há tantos outros disputando as minguantes vagas (e precisando delas tanto quanto nós). E desemprego significa pobreza, ausência de renda, escassez. Situação que beneficia apenas os empregadores, que, frente à maior oferta de mão-de-obra, podem impor piores condições de trabalho e salários menores.

 Embora a questão da determinação do nível de emprego (e consequentemente de desemprego) seja um mistério para muitos, a ciência econômica -- ou, como a chamavam os autores clássicos, Economia Política -- já a esclareceu, bem como a crítica da economia política de Marx esclareceu a própria origem histórica do emprego: os violentos processos de expropriação de terras, instrumentos e direitos que garantiam a subsistência de camponeses, índios etc sem que estes precisassem vender sua força de trabalho por um salário [4, 5].

 Pois bem: o volume de emprego -- excluindo-se os empregos públicos -- depende especificamente de três variáveis: a) a massa ou volume de investimentos; b) a relação de proporção em que esse investimento se divide entre força de trabalho (mão de obra), de um lado, e maquinário e instrumentos, de outro (que definirá o nível de produtividade do trabalho); e c) a intensidade e o tamanho da jornada de trabalho. O volume de emprego varia diretamente com a massa/volume de investimento e negativamente com o aumento da participação das máquinas e instrumentos no investimento total e com a intensidade e a jornada de trabalho. O próprio volume de investimento dependerá de quantas mercadorias os empresários esperam vender pelo menos a preços que garantam o lucro médio, correspondente à taxa geral, média, de lucro.

 A Economia Política também nos diz que é o total de gastos numa economia que determina o nível efetivo de renda e ao redor do qual oscila a produção, sendo as decisões de gasto as únicas decisões autônomas que os agentes econômicos -- famílias, empresas e o Estado -- possuem, e que o gasto total equivale à renda total [6].

 Dado que:

1) esse gasto total é composto por [C + I + G + X], isto é, consumo (das famílias), investimento (privado), gasto público e exportações;
2) que o ''investimento'' (privado), como chamamos a ''formação bruta de capital fixo'' -- isto é, a compra de máquinas e equipamentos para a ampliação da capacidade produtiva --, é basicamente induzido pelo crescimento dos outros componentes (que gera nos empresários a expectativa de aumento persistente das vendas);
3) que boa parte do consumo é induzido pela renda salarial,

 podemos concluir que o nível de renda, de produção e de emprego será basicamente ''levado à frente'' pelo consumo autônomo (isto é, financiado a crédito ou alguma riqueza que sirva de poder de compra), o gasto público, as exportações e os gastos empresariais não-diretamente ligados ao crescimento da capacidade produtiva, como os destinados a pesquisas tecnológicas. Desta maneira, para que o país volte a crescer e gerar empregos, é preciso que esses elementos voltem a crescer.

 Para isso, entretanto, é preciso a) que a taxa básica de juros do país, a SELiC, caia [7], barateando o crédito e incentivando a tomada do mesmo para consumo e investimento, e b) que a Emenda Constitucional 95 -- que congela as despesas primárias do governo federal por 20 anos -- seja anulada.

 Mas, como comentamos anteriormente, a economia não é uma questão meramente técnica, mas -- sobretudo -- política, isto é, marcada por interesses e conflitos de interesses. No momento, diversos grupos poderosos estão se beneficiando da situação de alto desemprego, bem como se beneficiarão da reforma trabalhista que prioriza o negociado sobre o legislado [8] e se beneficiam de grandes jornadas e uma alta intensidade de trabalho em geral -- contra as quais os trabalhadores em geral só podem resistir se houver baixo desemprego.

 O próprio governo, agora, continua piorando as coisas, subindo impostos (que reduzem a renda privada disponível para as famílias gastarem) e reduzindo seus gastos [9]. Combinação que só levará à piora da recessão e da situação do emprego.

 Não podemos, portanto, nos iludirmos quanto a isso: se não quisermos que nós, e/ou tantos outros, enfrentemos ou continuemos enfrentando a terrível situação do desemprego, é preciso lutar para mudar a política econômica (tornando-a pró-crescimento) e para reduzir a jornada e a intensidade de trabalho. E isso significa que precisaremos nos somar às pessoas e organizações que estão lutando contra o atual governo brasileiro, que, lei após lei, reforma após reforma, não para de tornar obscuro e cruel o futuro que a vasta maioria dos brasileiros -- que dependem da venda de suas forças de trabalho para sobreviverem -- terá se não o impedirmos.

Referências

[1] http://g1.globo.com/economia/noticia/desemprego-fica-em-137-no-1-trimestre-de-2017.ghtml
[2] http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/02/1861571-um-quarto-dos-jovens-de-18-a-24-anos-estao-desempregados.shtml
[3] http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2017/06/desemprego-entre-jovens-e-de-287.html
[4] https://www.marxists.org/portugues/marx/1867/capital/cap24/index.htm
[5] Para uma análise de como essas expropriações continuam ocorrendo ao longo da história do capitalismo, criando mão de obra disponível para a acumulação de capital, ver o texto a seguir: https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo145artigo1.pdf
[6] http://www.excedente.org/blog/macroeconomia-a-falacia-do-pai-de-familia-e-a-pec-241/
[7] https://bianchini.blog/2016/12/21/a-selic-pode-e-deve-cair/
[8] Cf. https://drive.google.com/file/d/0B43bL8QlMzZCNkxNLUZTTDBYOW8/view
[9] http://g1.globo.com/economia/noticia/governo-sobe-tributo-sobre-combustiveis.ghtml

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