sábado, 27 de junho de 2015

Mimimi contra a democracia





 Como todos nós sabemos, o casamento civil homoafetivo foi legalizado ontem pela Suprema Corte dos EUA em todo o país. Em consequência disso, várias pessoas, organizações e entidades puseram a bandeira LGBT em seus ícones, avatares e fotos de perfil, simbolizando apoio à causa. A coisa chegou aqui no Brasil num instante, e logo nosso feeds coloriram-se com as cores do arco-íris. Não bastou muito tempo e surgiram pessoas, organizações e entidades reclamando de todo jeito, sendo os principais argumentos os de que isso seria ''modinha'' e que há causas mais importantes a se lutar por (não raro acompanhado da foto de uma criança negra desnutrida).

 Pois bem. A moda, segundo várias e várias fontes que tratam de temas matemáticos, é o valor que mais aparece num determinado estudo. Se, por exemplo, eu analiso as preferências musicais de uma turma de estudantes e o resultado que mais sai é ''rock'', a conclusão é que ouvir rock é a moda daquela sala. Sinceramente não acho que a maioria dos usuários brasileiros do facebook tenha posto o filtro arco-íris na foto de perfil pra que isso tenha se tornado moda entre nós; por outro lado, concordo que muitos se empolgaram ao ver conhecidos e figuras admiradas pondo o filtro e assumindo a defesa da causa progressista.

 O negócio, pessoal, é que essa adesão veloz e massiva à campanha tem sua razão de ser. Todos nós sabemos o perrengue que a população LGBT sofre: diariamente vemos as notícias sobre LGBTs mortos ou agredidos em crimes de ódio, sempre observamos nas escolas as piadinhas e as formas de exclusão aos que fogem do padrão de gênero e sexualidade e aqui e acolá nos deparamos com casos em que jovens foram expulsos de casa por serem homo, bi ou transexuais. Pôr um filtro com a bandeira LGBT significa dizer que damos apoio a essa significante parcela da população, significa que eles têm a quem recorrer. Diante da ascensão de uma direita conservadora nos últimos anos, em especial, pôr a bandeira LGBT sobre a foto de perfil significa que boa parte da sociedade civil se opõe ao reacionarismo que tomou de conta do Estado, e que nós desejamos que direitos tão fundamentais como o de se unir legalmente com a pessoa que se ama -- independentemente do sexo/gênero desta -- sejam de acesso universal. Princípios religiosos que condenem a união homoafetiva podem perfeitamente ser seguidos em âmbito privado e dentro das igrejas, mas não podem ser positivados em esfera pública, legal. A laicidade do nosso Estado, que dá a todos liberdade de culto (na medida em que isso não infringe outros direitos humanos), também garante isso.

 Quanto à existência de ''causas mais importantes'', só tenho a dizer que isso é ignorância. A luta pelo fim da miséria e da fome, a luta pelo fim do racismo, a luta por educação e saúde universais e de alta qualidade e a luta pela emancipação feminina, p. ex., não se opõem à luta pela extensão dos direitos civis aos LGBTs e pelo fim da LGBTfobia; tampouco podem ser travadas somente em alternativa a esta. Na verdade -- e isso pode ser constatado por qualquer um que dê uma passadinha por uma página de esquerda do facebook -- as mesmas pessoas, organizações e entidades (vou ter de inventar uma abreviação...)  que defendem uma dessas causas defendem também as outras, e simultaneamente. Tudo faz parte de uma luta que, para nós, é necessária se quisermos ter um mundo melhor. E nós queremos.

 E a todos aqueles que persistirem em gritar, espernear e se irritar com o avanço do progresso, eu (novamente) só tenho uma coisa a dizer:







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