Uma das coisas que dificulta, no Brasil e também fora dele, a ação da esquerda política, é o reacionarismo das classes mais baixas. Melhor dizendo, seu conservadorismo moral. Provavelmente pela ausência de uma educação de qualidade e pela força com que se agarra às instituições religiosas (notáveis replicadoras do pensamento conservador), sendo o segundo fato, a meu ver, consequência do primeiro, a classe operária mantém os velhos preconceitos contra as minorias sociais ou contra atitudes progressistas que fujam ao senso comum.
Repetindo velhos bordões como ''bandido bom é bandido morto'' ou persistindo na crença de que a melhor política contra a violência urbana e as drogas é a repressão policial, a subjugada classe operária barra a agenda progressista de certos partidos, cujo objetivo, além de realizar medidas que visem distribuir a riqueza e dar aos trabalhadores condições de vida mais justas, é também aplicar medidas que permitam a adesão do casamento civil e da proteção legal contra a homofobia aos direitos já conquistados pela população LGBT, por exemplo.
Considero que transformar a mentalidade da faixa mais velha da população brasileira é uma tarefa extremamente difícil, senão impossível. A tarefa da esquerda política, portanto, deve ser a conscientização da juventude (notadamente mais liberal) sobre os deveres de transformação social, tanto em questões como distribuição de renda e melhoria dos serviços públicos de saúde, educação e assistência jurídica quanto em direitos das minorias, além, é claro, de ensinar a esta juventude como realizar esta transformação.
Os primeiros passos para a concretização dessa agenda de conscientização devem ser dados por meio de 1-uma reforma democrática da mídia, de forma a quebrar o oligopólio que reside nas mãos da elite burguesa, em certos setores extremamente conservadora e 2-elaboração de um modelo educacional progressista que estimule o aluno, sobretudo, a questionar o estado das coisas, e a desejar transformá-las. É sugerido que o passo referente à educação já começou a ser dado, haja visto as características do ENEM, mas ainda estamos longe da reforma ideal e necessária. A questão mais urgente, porém, é a reforma midiática, pois ela é o principal meio de modelação da nossa cultura e de divulgação das ideologias, e está atualmente marcada pelo apoio ao status quo. É preciso que esta pauta seja defendida em próximas manifestações populares e que seja exigida dos candidatos a cargos legislativo nas eleições deste ano.
Finalizo este texto com a frase do filósofo Sto. Agostinho: ''a esperança tem duas lindas filhas, a raiva e a coragem; a raiva do estado das coisas e a coragem para transformá-las''.
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