terça-feira, 4 de novembro de 2014

A dinâmica da exploração no capitalismo

Karl Marx (1818-1883), este senhor de rosto alegre e confiante, foi o primeiro a desvendar abertamente a forma como se dá a exploração econômica, juntamente com todo o mecanismo de produção de mercadorias na sociedade moderna. Como não era homem de palavras, mas de ações, sugeriu aos oprimidos que se rebelassem, sendo o autor da famosíssima frase ''Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!''


 Tente imaginar um mundo paralelo onde, por um motivo ou outro, quase ninguém consegue trabalhar sem um desenho (isso mesmo, um desenho qualquer numa folha), que nem os computadores no nosso mundo. Fabricar e vender esses desenhos dá muito dinheiro, mas os instrumentos e materiais necessários para fazê-los custam muito caro - assim como as máquinas e a matéria-prima necessária para produzir computadores no nosso mundo.

 Um cara chamado Burguêzaldo, que recebeu uma herança de grande valor de seus pais, resolve investir nesse mercado: ele compra os instrumentos (lápis, caneta, borracha, coleção...) e a matéria-prima (papel e tinta) e contrata alguns operários para trabalharem em sua ''fábrica'', por 5 dias por semana, 8h a cada dia. Ao final do mês, cada operário produziu o equivalente a 160 horas de trabalho (4 semanas por mês x 5 dias por semana x 8 horas por dia). Burguêzaldo vende os desenhos produzidos, porém só devolve aos empregados uma parte do total produzido por eles. Vamos supôr que Burguêzaldo pague para cada um o equivalente a 20 horas de trabalho, ou seja, o dinheiro obtido com a venda de 20 desenhos: ele ficará com o lucro de 140 horas de trabalho de cada operário. Não é ele que está pagando aos empregados, são os empregados que estão lhe pagando!

 Essa quantia a mais que os empregados produzem e que não é paga é chamada de mais-valia, e é o que, descontadas outras despesas além do salário, proporciona o lucro dos donos das ferramentas e materiais necessários para produzir, que a gente chama de meios de produção; o conjunto nas capacidades físicas e mentais existentes no corpo e na personalidade vida de cada um dos trabalhadores (os proletários), que eles põem em ação sobre esses meios, nós chamamos de força de trabalho. O conjunto  meios de produção + força de trabalho forma o capital, que é controlado pelos tais donos dos meios de produção, os capitalistas.

''Bom'', você deve estar pensando, ''se os instrumentos e a matéria-prima são do capitalista, ele tem direito ao lucro'', o que não é mentira. Mas esse direito só existe quando os meios de produção são fruto do trabalho do capitalista. Vamos supôr que um vendedor passe 20 anos trabalhando e economizando e, então, resolva montar uma fábrica, onde os trabalhadores decidem trabalhar de bom grado; é óbvio que ele tem o direito de pegar parte do dinheiro ganho com a venda da produção para si.

 O problema é que esse tipo de coisa (propriedade fruto do trabalho pessoal + trabalhadores plenamente livres para escolher um emprego) quase nunca acontece. Vamos ver um exemplo: na Inglaterra do século XVII, o governo ordenou a expulsão de vários camponeses de suas terras para a montagem de indústrias nelas. Oras, se você pode trabalhar para si próprio e ficar com toda a riqueza obtida na produção, com certeza não vai querer trabalhar para os outros; nada mais lógico, então, para a rainha e os comerciantes (que haviam acumulado bastante dinheiro durante a idade média), do que forçar os camponeses a trabalhar nas novas fábricas, já que não conseguiriam outra forma de arranjar dinheiro ou produzir as coisas necessárias para sua sobrevivência (comida, vestimenta etc). Como o governo não os protegia e não havia outras opções de emprego, os trabalhadores tiveram de se conformar com os péssimos salários e condições de trabalho impostas pelos donos das fábricas, o que permitiu a estes acumular muito dinheiro com a venda dos produtos.

 Outro exemplo, mais próximo da nossa realidade: durante o Brasil colônia, os patrões - que nunca cortavam cana nem trabalhavam fazendo as máquinas de engenho, e ainda receberam ''suas'' terras de presente do governo - pegavam todo o valor  em dinheiro ganho com cana que os escravos produziam e só devolviam uma parte minúscula, na forma de comida e vestimenta. Gerações de escravos nasciam sem direito a nada do que seus pais produziam, enquanto os filhos dos donos de escravos herdavam toda a riqueza que os pais acumularam sem trabalhar nada ou quase nada.

 Quando acabou a escravidão, o governo não deu nenhuma ajuda aos ex-escravos. Resultado: muitos deles continuavam trabalhando para os mesmos senhores, não porque quisessem, mas pela falta de opções. Outros foram procurar emprego nas indústrias que surgiam (construídas com o dinheiro da produção de café, que usava mão-de-obra escrava), ganhando um salário ridículo, uma vez que não tinham  qualificação profissional. E assim, lado a lado com a riqueza, perpetuou-se a miséria.

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