terça-feira, 16 de julho de 2013

As justificativas dos homofóbicos contra a aprovação do casamento gay

 No Brasil, muito se tem discutido a legalidade da união homo-afetiva. De um lado, pessoas defendendo seus direitos e outras que as apoiam; de outro, pessoas defendendo suas opiniões e suas crenças.

 Uma das justificativas mais citadas por aqueles que se opõem à aprovação do casamento gay é a  suposta incapacidade de dois homossexuais de constituírem uma família. Segundo alguns deles (os que se opõem), jamais houve um modelo de família baseado na união de dois indivíduos do mesmo sexo. Primeiro, e como Karl Popper poderia dizer, como é possível afirmar categoricamente que jamais houve tal modelo, na enorme história da humanidade? Seria preciso conhecer todas as sociedades que já existiram, e isso é, senão impossível, no mínimo improvável. E já na Grécia antiga, pessoas como o filósofo Zenão de Cítio, fundador do estoicismo, acreditavam que nós deveríamos procurar nossos parceiros e conjugues antes por características como empatia e afetividade do que por condição financeira ou gênero (sexo) do indivíduo. Estudiosos sugerem que a união homo-afetiva é tão (ou mais) estável que a união heteroafetiva. Pesquisas [1] sugerem também que as crianças criadas por casais gays são tão felizes quanto as criadas por casais de pessoas de sexos opostos. Segundo os pesquisadores, ''
As preocupações sobre os efeitos potencialmente negativos para as crianças de serem criados com pais gays parecem ser, pelo nosso estudo, improcedentes''. Há rumores de que os casais gays são inclusive mais exigentes com o desempenho escolar de seus filhos que os casais ''comuns''. Uma união estável, com crianças felizes e bem educadas. Isso não é uma família?

 A oposição evoca também sua crença de que a homossexualidade seria uma opção, um comportamento, que não seria ''de nascença''. A hipótese de que alguém escolheria ser gay em uma sociedade como a nossa é ridícula, e isso é auto-evidente. Entretanto, assim como a hipótese de que homossexualidade é comportamento, a da opção ainda perdura na mente das pessoas. Oras, poderiam adeptos de uma simples escolha ou comportamento terem, graças à tais, cérebros fisicamente mais parecidos com os do sexo oposto? [2] Poderiam eles apresentar diferenças cruciais no funcionamento do cérebro para com suas contrapartes heterossexuais? [3] Poderiam os gays masculinos, se homossexualidade fosse escolha ou comportamento, ser mais sensíveis à androsterona (um elemento do odor masculino) do que homens heterossexuais? [4] Sobre a frase ''homossexualidade não é de nascença'', é difícil entender o que ela quer dizer. Os canhotos, por exemplo, não nascem canhotos, mas o ''canhotismo'' tem fatores genéticos.

 A legalização da união homoafetiva é, sim, uma questão de direitos iguais, e por mais que pessoas como Feliciano e Malafaia gritem e esperneiem, não conseguirão evitar o progresso. As justificativas para seus preconceitos, de bases tão frágeis, desabam por conta própria.

[1] https://www.childwelfare.gov/pubs/f_gay/f_gay.pdfhttp://cms.bsu.edu/-/media/WWW/DepartmentalContent/CounselingCenter/PDFs/SAFEZONE%20Resources/Children%20of%20gays%20and%20Lesbians.pdfhttp://www.cambridge-news.co.uk/Health/Family/Children-as-happy-with-gay-parents-research-06032013.htm

[2] http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL602802-5603,00-HOMEM+GAY+TEM+CEREBRO+FEMININO+COMPROVA+ESTUDO.html,
http://veja.abril.com.br/250608/p_168.shtml

[3] http://www.pnas.org/content/105/27/9403.abstract, Bocklandt, Sven, and Eric Vilain. "Sex Differences in Brain and Behavior: Hormones Versus Genes." Advances in Genetics 59 (2007): 245--266. doi:10.1016/S0065-2660(07)59009-7.

[4] Lübke, Katrin, Sylvia Schablitzky, and Bettina M. Pause. "Male Sexual Orientation Affects Sensitivity to Androstenone." Chemosensory Perception 2, no. 3 (September 1, 2009): 154--160. doi:10.1007/s12078-009-9047-3.