quarta-feira, 21 de maio de 2014

O orgulho nacional, por Richard Rorty



Trecho inicial de Achieving Our Country, lançado no Brasil com o nome de Para Realizar a América.

''O orgulho nacional é, para os países, o que a autoestima é para os indivíduos: uma condição necessária para o auto-aperfeiçoamento. Orgulho nacional excessivo pode produzir belicosidade e imperialismo, da mesma maneira que excessiva autoestima pode gerar arrogância. Mas, assim como muito pouca autoestima torna difícil para uma pessoa dispor de coragem moral, orgulho nacional insuficiente torna improváveis debates políticos vigorosos e eficazes. O envolvimento nacional com o seu país - sentimentos de vergonha intensa ou de orgulho fulgurante despertados por várias partes de sua história, e por várias políticas nacionais contemporâneas - é necessário para que as deliberações políticas sejam imaginativas e produtivas. Tais deliberações provavelmente não ocorrerão a menos que o orgulho sobrepuje a vergonha.

 A necessidade deste tipo de envolvimento existe até mesmo para aqueles que, como eu, esperam que os Estados Unidos da América algum dia venham a ceder sua soberania ao que Tennyson chamou de 'o Parlamento do Homem, a Federação do Mundo'. Pois uma federação assim nunca virá a existir a menos que os governantes dos estados-nações individuais cooperem para realizá-la, e a menos que os cidadãos desses estados-nações tenham um certo orgulho (mesmo que seja um orgulho pesaroso e hesitante) dos esforços dos seus governantes nesse sentido.

 Aqueles que esperam persuadir uma nação ao auto-esforço precisam lembrar a seu país tanto do que pode ter orgulho quanto do que pode ter vergonha. Eles têm de contar histórias inspiradoras sobre episódios e figuras do passado da nação - episódios e figuras aos quais o país deve permanecer fiel. As nações confiam aos seus artistas e intelectuais a criação de imagens do passado nacional e a tarefa de contar histórias desse passado. A competição pela liderança política é em pate uma competição entre diferentes histórias sobre a auto-identidade de uma nação, e entre diferentes símbolos de grandeza.''


Richard Rorty foi um filósofo neopragmatista estadunidense radicado em Harvard, cujo trabalho mais famoso é o livro Filosofia e o Espelho da Natureza. O pensamento rortyano encontra eco nas obras do neurologista e filósofo estadunidense Sam Harris e do filósofo brasileiro Paulo Ghiraldelli Jr, dentre outros.


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