terça-feira, 26 de agosto de 2014

''Eu sou capitalista, você é capitalista, todo mundo é capitalista nessa p@##%!''


''Eu não liderei a revolução russa de 1917 pra ler/ouvir uma besteira dessas'', diria o Lênin. 

 Embora, creio eu, sejam incomuns, certas pessoas acham que a afirmação do título deste artigo é verdadeira. Para elas, viver numa sociedade capitalista - melhor dizendo, sob o modo de produção capitalista - significa, logicamente, ser capitalista. Meu objetivo aqui é mostrar que tal crença é um erro teórico absurdo, e que chega a contribuir para a manutenção dos mecanismos de exploração dos trabalhadores.

 Primeiro, o que é capital? Misturando senso-comum com linguagem econômica, nós nos acostumamos a achar e dizer que capital é qualquer tipo de bem que possa se tornar fonte de renda. Uma casa, por exemplo, ou mesmo um conhecimento especializado poderiam ser capital porque são bens que podem gerar renda ao proprietário. Daí podem-se concluir duas coisas:

1) Que o capital existe em toda e qualquer sociedade, em qualquer lugar e tempo;
2) Que objetos inanimados podem ser produtivos e gerar renda por si próprios.

 A teoria marxista discorda dessas conclusões. O argumento é o seguinte: embora o capital tenha surgido antes das relações capitalistas de produção, ele é inerente ao modo de produção capitalista, porque jamais uma coisa seria capaz de gerar renda. Na verdade, o capital seria uma relação social que toma a forma de coisa. Se são os homens com seu trabalho que geram riquezas, o capital é, antes de mais nada, a relação entre seres humanos que se transforma em bens materiais. Nas palavras de Marx:

''(...) o capital não é uma coisa, mas uma relação de produção definida, pertencente a uma formação histórica particular da sociedade, que se configura (materializa) em coisa e lhe empresta um caráter social específico.''

 Ou seja, o capital não é simplesmente um conjunto de meios de produção; esses é que foram transformados em capital ao serem apropriados por uma classe social (a burguesia) e empregados com a finalidade de gerar rendas. Não por acaso, o Houaiss também dá a seguinte definição de capitalismo: ''sistema social em que o capital está em mãos de empresas privadas que contratam mão-de-obra em troca de salário''.

 Para os marxistas, o capitalismo se apresenta como um modo de produção baseado fundamentalmente na propriedade privada dos meios de produção. Assim sendo, de um lado, há uma burguesia capitalista, na condição de classe dominante e detentora dos meios de produção; de outro, o proletariado, como classe dominada, que necessita vender sua força de trabalho para obter os itens necessários à sua subsistência.

Marx  também nos diz o seguinte:

''Mas, o trabalho do proletário, o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário? De nenhum modo. Cria o capital, isto é, a propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente. Em sua forma atual a propriedade se move entre os dois termos antagônicos: capital e trabalho. Examinemos os dois termos dessa antinomia.
 Ser capitalista significa ocupar não somente uma posição pessoal, mas também uma posição social na produção. O capital é um produto coletivo: só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade, e mesmo, em última instância, pelos esforços combinados de todos os membros da sociedade.
O capital não é, pois, uma força pessoal; é uma força social.
Assim, quando o capital é transformado em propriedade comum, pertencente a todos os membros da sociedade, não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade social. O que se transformou foi apenas o caráter social da propriedade. Esta perde seu caráter de classe.''

 Em outras palavras: em se tratando de capitalismo, há uma minoria capitalista, e a condição para ser tal é a propriedade privada dos meios de produção. Os que vendem sua força de trabalho podem ser, no máximo, pró-capitalismo, o que me parece sinônimo de ingenuidade e/ou masoquismo. Se quisermos ver o fim da pobreza, do subdesenvolvimento, da desigualdade de renda abismal, de boa parte da criminalidade, da destruição desenfreada do meio-ambiente e de muitos outros problemas que caracterizam a sociedade moderna, a solução é justamente o rompimento violento com o domínio do capital - o domínio da classe burguesa.

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