quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Trecho de ''Manifesto de lançamento da Associação Internacional de Trabalhadores''



''Após uma luta de 30 anos, travada com notável perseverança, o operariado inglês, aproveitando uma  ruptura momentânea entre os latifundiários e capitalistas, conseguiu que fosse aprovada a lei da jornada de dez horas. Os imensos benefícios físicos, morais e intelectuais que daí decorreram para os operários das fábricas, expostos semestralmente nos relatórios dos inspetores das fábricas, são agora amplamente admitidos. A maioria dos governos do Continente teve de aceitar, em formas mais ou menos modificadas, a lei inglesa do trabalho, e o próprio Parlamento inglês tem anualmente de ampliar a esfera de ação dessa lei. Mas além de seu significado prático, haviam outros aspectos que realçavam o maravilhoso triunfo que foi essa medida para os operários.

 Através de seus mais conhecidos sábios -- tais como o Dr. Ure, professor sênior, e outros filósofos do mesmo torpe --, a burguesia predissera e 'provara' plenamente que qualquer restrição legal às jornadas de trabalho deveria arruinar a indústria inglesa, que, como um vampiro, só podia sobreviver sugando sangue, inclusive o sangue de crianças. Nos tempos antigos, o assassínio de uma criança constituía um rito misterioso da religião de Moloch, mas era praticado apenas em ocasiões muito solenes, e Moloch não demonstrava nenhuma preferência exclusiva pelos filhos dos pobres. Essa luta sobre a restrição legal da jornada de trabalho lavrava com tanto mais ardor quanto, além da avareza amedrontada, afetava de fato a grande luta entre o domínio cego das leis da oferta e da procura, conteúdo da economia política burguesa, e a produção social controlada pela previsão social, conteúdo da economia política operária. Consequentemente, a lei da jornada de dez horas não foi apenas um êxito prático; foi a vitória de um princípio. Pela primeira vez, em plena luz do dia, a economia política burguesa sucumbia ante a economia política da classe operária.''

 - K. Marx, 21-27 de outubro de 1864.

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