sexta-feira, 29 de abril de 2016

O pleno emprego (e por que ele é importante)


Tradução de ''Full employment, why it is important'', no blog Naked Keynesianism, do prof.º Matías Vernengo






 Em minhas aulas intermediárias de macroeconomia na universidade de Utah, eu sempre começo por perguntar se é um problema mais socialmente relevante um acréscimo de 1% na inflação ou um aumento de 1% no desemprego. Embora as respostas variem um pouco de acordo com as circunstâncias macroeconômicas, é quase sempre verdadeiro que a vasta maioria dos alunos pensem que a inflação é o verdadeiro problema.

 Quando questionados sobre por que eles pensam que a inflação é um problema pior que o desemprego eles raramente sugerem que a inflação pode prejudicar aos pobres mais que aos opulentos, o que revelaria uma preocupação com a distribuição de renda, ou parecem compreender que uma inflação moderada pode ser boa. Além disso, eles não têm ideia de que a deflação é consideravelmente pior que a inflação, e que a razão para isso é que a deflação causa desemprego severo. O ponto é que eles parecem pensar que a inflação não lhes prejudica mais do que o desemprego; afinal de contas, eles estão obtendo uma graduação de nível superior (o que não é muita garantia nos dias de hoje, mas eu vou deixar isso para outra publicação).

 Eu conto então uma estória pessoal sobre inflação e desemprego e por que alguém deveria se preocupar com o nível deste. No outono de 1999, recém-saído da graduação, eu fui empregado como diretor assistente de um think tank. Como descobri depois, havia outros 5 candidatos para o cargo. A taxa de desemprego médio em 1999, eu acrescentaria, era de aproximadamente 4.2% (veja aqui). Acontece que eu tinha outra informação interessante que alguém raramente tem sobre um cargo particular, isto é: o número de candidatos para o mesmo cargo na primeira vez em que este foi aberto, em 1995. 

 Eu sempre pergunto meus alunos, então, sabendo que a taxa de desemprego era por volta de 5.6% (aqui, novamente) -- isto é, 1.4% maior que em 1999 --, quantas pessoas eles acham que se candidataram que se candidataram ao mesmo cargo em 1995. Eles nunca dizem algo próximo aos 300 ou algo assim que competiram para o posto. Em outras palavras, nesse caso particular, uma taxa de desemprego 1.4% mais alta implicou uma esmagadora diferença em termos de concorrência. É claro que alguém não pode, e não deve, generalizar a partir de uma observação, mas a informação anedótica se encaixa na evidência mais substancial para um mercado de trabalho apertado nos últimos anos da década de 1990, nos quais de fato vimos acréscimos nos salários reais para trabalhadores médios nos Estados Unidos.

 Se não por qualquer outro motivo, os estudantes e todo o mundo mais deveriam estar preocupados com a taxa de desemprego porque 1% a mais na taxa pode prejudicar consideravelmente mais do que a equivalente alteração em preços [e é por isso que o Índice de Miséria de Okun, que soma as taxas de desemprego e de inflação, faz pouco sentido; ele mistura coisas que não têm a ver]. Mas ainda mais, é importante lembrar que ao passo que a inflação atinge todo mundo mais ou menos equivalentemente -- mesmo se as pessoas têm diferentes cestas de consumo --, o desemprego é um problema social divisivo, que faz de alguns 'vencedores' e de outros 'perdedores', causando divisões profundas na sociedade (p. ex. ''imigrantes roubam nossos empregos'').

 E é por essa razão que o pleno emprego é a mais importante política econômica e social, a base sobre a qual construir outras políticas. O trabalho define nossas vidas em grande extensão e dá dignidade às pessoas. E eu não falo somente dos pobres. Como falo aos meus alunos, eu sou um profundo crente na ética do trabalho duro, e é por isso que eu penso que renda e riqueza devem ser pesadamente tributadas, de maneira que todo mundo tenha que trabalhar para ganhar a vida. Isso é pleno emprego para todos! 

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