domingo, 23 de julho de 2017

A teoria clássica do nível de salários





 Segue um trecho do texto ''Marxismo e teoria econômica hoje'', escrito por Pierangelo Garegnani e Fabio Petri, que trata da interpretação desses economistas -- da escola inspirada no trabalho de Piero Sraffa -- sobre a determinação do nível de salários naqueles teóricos que entendem como pertencentes à ''escola clássica'' e adeptos/contribuintes originais da ''abordagem do excedente''. 



<<Comecemos pelo salário real. À primeira vista, Quesnay, Smith, Ricardo, Marx parecem ter tido em comum a ideia de um salário que gravita em torno de um nível de subsistência. Mas, quando se examina a questão com maior atenção, observa-se que a “subsistência” dos trabalhadores era entendida como dependente de condições históricas e sociais não menos do que de condições fisiológicas; Ricardo, por exemplo, aí incluía “aqueles comodidades que o hábito transforma em necessidades absolutas”.  Aqui parece possível distinguir entre Quesnay e Ricardo, por uma parte, que aderiam à noção de um salário determinado pelo nível de subsistência (por efeito, em Ricardo, do princípio malthusiano da população),  e, por outra, Adam Smith e Marx, cuja posição a respeito era muito mais aberta.
Adam Smith, antecipando em vários aspectos a análise de Marx, reconheceu explicitamente que a principal razão que explicava a tendência dos salários no sentido do nível de subsistência era a maior força contratual dos masters (os capitalistas) em relação aos operários, derivada seja do apoio estatal, seja da maior facilidade dos masters (os capitalistas) em relação aos operários, derivada seja do apoio estatal, seja da maior facilidade dos masters para unirem-se (na maioria dos casos, tacitamente), seja de sua maior capacidade de resistir por longo tempo em caso de lutas, greves, etc. De acordo com este ponto de vista bastante mais flexível que o de Ricardo, ele afirmou que um rápido crescimento econômico podia levar a um aumento dos salários, criando uma escassez de trabalhadores que induziria os masters a romper seu tácito acordo de não aumentar os salários; ao passo que admitiu poderem os salários cair inclusive aquém do nível da subsistência num contexto de declínio da sociedade. 
Marx desenvolveu tais indicações de Smith numa teoria cíclica do nível dos salários, o qual termina por depender da interação entre salário efetivo e volume do “exército industrial de reserva” dos desempregados. Os aumentos de salário real acima da subsistência obtidos durante um período de rápida acumulação e desemprego diminuído seriam anulados em razão das inovações técnicas e da acumulação mais lenta, que, causadas pelo aumento do salário, reconstituiriam afinal o “exército industrial de reserva”.
“Demonstra-se assim que estes autores tiveram em comum não tanto a ideia de um salário determinado pelo nível de subsistência quanto a concepção mais geral de um salário regulado por forças econômicas e sociais, que permitiam determina-lo antes e independentemente das outras quotas de produção. Esta separação entre determinação dos salários e determinação das outras quotas do produto é evidente onde o salário se explica exclusivamente em termos de subsistência habitual, como em Quesnay ou Ricardo. Mas a mesma separação surge com clareza também em Marx e em Smith, que admitiram uma maior influência das condições econômicas sobre o salário. E é esta determinação separada do salário que explica o seu tratamento como uma grandeza que constitui um dado (uma variável independente) para a determinação das outras quotas do produto social.”>> 

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