sábado, 7 de março de 2015

''Nós vivíamos melhor naqueles tempos''






 Mais de duas décadas atrás, Vaclav Havel, o herdeiro mimado de uma família rica de Praga, ajudou a inaugurar um período de reação no qual as explorações e propriedades dos ex-proprietários de terra e capitães da indústria foram restauradas para seus proprietários anteriores, enquanto o desemprego, a falta de moradia e insegurança — abolidos pelos comunistas — voltaram à rotina. Havel é elogiado pelos suspeitos costumeiros, mas não por suas inumeráveis vítimas, que foram empurradas para trás em um abismo de exploração pela revolução de veludo e outras erupções reacionárias. Com a queda do socialismo permitindo a Havel e seu irmão recuperarem várias propriedades, suas vidas — ele trabalhou em uma fábrica de cerveja durante o socialismo — tornou-se muito mais rica. O mesmo não pode ser dito de incontáveis outros, cujas vidas melhore sob o socialismo foram varridas por uma fraude que, nos próximos dias, será tratada como celebridade por ocasião dos 20 anos da demolição da União Soviética [artigo originalmente publicado em 2011]. Tal aniversário não é momento de celebração, exceto para a minoria que lucrou com isso. Para a maior parte de nós deveria ser uma ocasião para refletir sobre o que os 99% de baixo da humanidade foram capazes de conseguir para nós mesmos fora das estruturas, instabilidades e crueldades desnecessárias do capitalismo.

 Ao longo das suas 7 décadas de existência, e apesar de ter que gastar tanto tempo preparando, lutando e se recuperando de guerras, o socialismo soviético conseguiu criar uma das grandes conquistas da história da humanidade: uma sociedade industrial de massas que eliminou a maior parte das desigualdades na distribuição de riqueza, renda, educação e oportunidade que assolaram o que o precedeu, o que veio depois e o que competiu com ele; uma sociedade em que os cuidados de saúde e educação universitária eram gratuitos (e estudantes universitários recebiam bolsas para se manter); onde aluguel, serviços públicos e transporte eram subsidiados, além de livros, periódicos e eventos culturais; onde a inflação foi eliminada, as pensões eram generosas e o cuidado infantil era subsidiado. Em 1933, com o mundo capitalista profundamente imerso em uma devastadora crise econômica, o desemprego foi abolido, e assim permaneceu durante as próximas 5 décadas e meia, até que o socialismo foi derrubado. Excetuando-se os anos de guerra, a partir de 1928, quando o socialismo foi introduzido, até que Mikhail Gorbachev começou a desmontá-lo no final dos anos 80, o sistema soviético de planejamento central e propriedade pública produziu crescimento econômico constante, sem as recessões e crises que assolaram as economias capitalistas da América do Norte, da Europa ocidental e do Japão. E na maior parte desses anos, as economias soviética e da Europa oriental cresceram mais rápido.

 Os comunistas produziram crescimento econômico uma segurança econômica tão robusta quanto (e muitas vezes mais que) a dos países mais ricos, mas com menos recursos e um menor nível de desenvolvimento e apesar dos esforços incansáveis do mundo capitalista para sabotar o socialismo. O socialismo soviético foi, e continua sendo, um modelo para a humanidade do que pode ser realizado fora dos limites e contradições do capitalismo. Entretanto, no fim da década de 1980, a contrarrevolução estava varrendo a Europa oriental e Mikhail Gorbachev desmantelava os pilares do socialismo soviético. Ingenuamente, cegamente, estupidamente, alguns esperavam que o projeto de demolição de Gorbachev levasse a uma sociedade de consumo próspera, em que os cidadãos soviéticos, com suas contas bancárias esbugalhadas com rendimentos auferidos de novos postos de trabalho obtidos em uma economia de mercado robusta, habitaria coloridos e luxuosos shoppings, para escolher prateleiras limpas e repletas de mercadorias. Outros imaginavam uma nova era de democracia multipartidária e liberdades civis expandidas, coexistindo com a propriedade pública dos setores chave da economia, um modelo que parecia se dever a projetos utópicos que à realidade concreta.

 Óbvio, nenhuma das promessas da contrarrevolução foram mantidas. Embora no momento o fim do socialismo na União Soviética e na Europa Oriental tenha sido declarado uma grande vitória da humanidade, não menos importante por intelectuais de esquerda dos EUA, duas décadas depois há pouco a se comemorar. O desmantelamento do socialismo, em uma palavra, foi uma catástrofe, uma grande fraude que não só não entregou nada do que foi prometido como também causou um dano irreparável, não só nos países ex-socialistas, mas em todo o mundo ocidental. Incontáveis milhões mergulharam na pobreza, o imperialismo recebeu mão livre e os salários e benefícios no Ocidente se curvaram sob a pressão de uma concorrência acrescida por emprego e indústria desencadeados por uma avalanche de desemprego nos antigos países socialistas, onde o desemprego, com razão, era considerado uma obscenidade. Inúmeras vozes na Rússia, Romênia, Alemanha Oriental e em outros lugares lamentavam o que foi roubado deles — e da humanidade como um todo: ''Nós vivíamos melhor sob o socialismo. Tínhamos emprego. Tínhamos segurança''. E com a ameça de os empregos migrarem para os países com baixa remuneração e altas taxas de desemprego da Europa Oriental, os trabalhadores da Europa Ocidental têm sido forçados a aceitar mais dias de trabalho, salários mais baixos e benefícios degradados. Hoje, eles lutam numa desesperada ação de retaguarda, onde as vitórias são poucas e as derrotas, muitas. Eles também viviam melhor — em outros tempos.

 Mas isso é apenas parte da história. Para outros, para os investidores e as empresas, que encontraram novos mercados e oportunidades de investimento rentável, e podem colher os benefícios de custos trabalhistas mais baixos que provocam a intensificação da concorrência por emprego, a derrubada do socialismo tem, de fato, sido algo para comemorar. Igualmente, tem sido bem recebida pelos proprietários de terras e elites industriais dos regimes pré-socialismo cujas propriedades e empresas industriais foram recuperadas e privatizadas. Mas eles são uma minoria. Por que o resto de nós comemora o assalto a si próprio?

 Antes do desmantelamento do socialismo, a maioria das pessoas no mundo foi protegida das vicissitudes do mercado capitalista global pelo planejamento central e as tarifas alfandegárias elevadas. Mas uma vez que o socialismo caiu na Europa Oriental e na União Soviética e com a China tendo marchado resolutamente no caminho capitalista, a reserva do trabalho sem proteção disponível para corporações transnacionais expandiu-se muitas vezes. Hoje, uma força de trabalho mundial muito maior do que a piscina inteira de trabalhadores norte-americanos — e disposta a trabalhar a preços baixíssimos — aguarda as corporações globais. Você não tem que ser um cientista espacial para descobrir quais são as implicações para os trabalhadores norte-americanos e seus homólogos na Europa Ocidental e no Japão: uma intensa competição de todos contra todos para o emprego e a indústria. Inevitavelmente, as rendas caem, os benefícios são erodidos, as horas de trabalho se estendem. Previsivelmente, com os custos trabalhistas caindo, os lucros sobem, os capitais excedentes se acumulam e criam bolhas, as crises financeiras entram em erupção e as guerras de rapina para garantir oportunidades de investimento irrompem.

 A crescente competição por empregos e indústria tem forçado os trabalhadores da Europa Ocidental a aceitar menores remunerações. Eles trabalham mais horas e, em alguns casos, para receber menos e sem aumento de benefícios, para impedir seus empregos de migrarem para a República Tcheca, Eslováquia e outros países ex-socialistas — que, sob o governo dos vermelhos, proviam empregos para todos. Mais trabalho por menos dinheiro é um resultado agradável para a classe empresarial, e acaba por ser exatamente os resultados que os fascistas prepararam para os capitalistas de seus países na década de 1930. Os métodos, com certeza, eram diferentes, mas o anti-comunismo de Mussolini e Hitler, em outras mãos, mostrou-se tão útil quanto para garantir os mesmos fins retrógrados. Ninguém que está sujeito aos caprichos do mercado de trabalho — quase todos nós — deve estar contente de o socialismo ter sido abolido.

 Talvez alguns de nós não saibam que fomos assaltados. E alguns de nós talvez não tenham sido. Pegue o historiador radical norte-americano Howard Zinn, por exemplo, que, juntamente com a maioria dos outros intelectuais proeminentes de esquerda, cumprimentou a derrubada do socialismo com alegria [1]. Eu, não menos do que outros, admiro os livros, os artigos e o ativismo de Zinn, embora eu tenha vindo a tomar seu ardente anti-comunismo como típico dos intelectuais de esquerda estadunidenses. Que fique claro que, em um ambiente hostil ao comunismo, não deve ser nenhuma surpresa que exibições notáveis de anti-comunismo tornem-se uma estratégia de sobrevivência para aqueles que procuram estabelecer um relacionamento, e salvaguardar suas reputações, com uma maior (e mais anti-comunista) audiência.

 Mas pode haver outra razão para o anticomunismo daqueles cujos pontos de vista deixam-lhes vulneráveis a críticas de indulgência para com o comunismo, e portanto de ter chifres. Como dissidentes em sua própria sociedade, sempre houve uma tendência natural para eles a se identificar com os dissidentes em outros lugares — e a propaganda ocidental pró-capitalista e antissocialista elevou os dissidentes nos países socialistas ao status de heróis, especialmente aqueles que foram presos, amordaçados ou reprimidos de outra forma pelo Estado. Para essas pessoas, a abreviação das liberdades civis em qualquer lugar se agiganta, uma vez que que a diminuição de suas próprias liberdades civis seria um evento de grande importância pessoal. Em compensação, a conquista dos comunistas no fornecimento de uma frugalidade confortável e seguridade econômica a todos, enquanto reconhecida intelectualmente como conquista de alguma importância, é menos apta a agitar a imaginação de alguém que tem uma renda confortável, o respeito de seus pares e muitas pessoas a lerem seus livros e participarem de suas palestras. Eles não têm que limpar o carvão descartado em lixões para ganhar a existência vazia, desolada e ingrata. Alguns têm de fazê-lo.

 Karol, de 14 anos, e sua irmã Alina, de 12, marcham todos os dias para o lixão, onde resíduos industriais misturados são descartados, nos arredores de Swietochlowice, na Polônia ex-socialista. Lá, junto com seu pai, elas procuram por sucata e carvão de segundo nível, qualquer coisa para obter alguns dólares para comprar um pequeno suprimento de mantimentos. ''A vida era melhor no socialismo'', diz o pai de Karol, 49 anos de idade, repetindo um refrão ouvido diversas vezes, não só na Polônia mas também ao longo dos países ex-socialistas da Europa Oriental e da antiga União Soviética. ''Eu trabalhei por 25 anos na mesma empresa e agora eu não consigo achar um emprego — qualquer emprego. Eles só querem trabalhadores jovens e qualificados''[2]. De acordo com Gustav Molnar, um analista político aliado com o Instituto Teleki Lazlo, ''a realidade é que quando as empresas estrangeiras vêm aqui, elas estão interessadas apenas na contratação de pessoas com menos de 30 anos. Isso significa que metade da população está fora do jogo''[3]. Isso pode se adequar às linhas de fundo de empresas estrangeiras — e a derrubada do socialismo pode ter sido um resultado agradável para os intelectuais confortáveis e bem alimentados de Boston — mas dificilmente combina com que parte da população polonesa que deve escalar montanhas de resíduos industriais — ou morrer. Maciel Gdula, 34 anos, um dos membros fundadores do grupo Krytyka Polityczna, ou Crítica Política, reclama que muitos poloneses ''estão desiludidos com as promessas incumpridas do capitalismo. Eles nos prometeram um mundo de consumo, estabilidade e liberdade. Em vez disso, temos uma geração inteira de poloneses que emigraram para ir lavar pratos'' [4]. Sob o socialismo ''sempre houve trabalho para todos'' [5] — no próprio país. E sempre um lugar para morar, escolas gratuitas para frequentar e médicos para se consultar, sem custos. Então por que Howard Zinn ficou tão contente de o socialismo ter sido derrubado?

 Que a derrubada do socialismo não entregou nenhum benefício para a maioria é fácil de ver. Uma década depois que a contrarrevolução cruzou toda a Europa Oriental, 17 nações ex-socialistas eram imensamente mais pobres. Na Rússia, a pobreza havia triplicado. Uma criança em cada dez — 3 milhões de crianças russas — viviam como animais, mal alimentadas, vestidas em trapos e vivendo, se tivessem sorte, em flats imundos e miseráveis. Só em Moscou, 30 a 50 mil crianças viviam nas ruas. A expectativa de vida, educação, alfabetismo dos adultos e renda diminuíram. Um relatório da European Children Trust, escrito em 2000, revelou que 40% da população dos países ex-socialistas — um número igual a 1 a cada 2 cidadãos norte-americanos — viviam na pobreza. A mortalidade infantil e a tuberculose estavam em alta, aproximando-se dos níveis do Terceiro Mundo. A situação, de acordo com a ONU, era catastrófica. E em toda parte a história foi a mesma [6, 7, 8].

 Paul Cockshot afirma que

''A restauração dos mecanismos de mercado na Rússia era uma vasta experiência controlada. A nação, o caráter nacional e a cultura, os recursos naturais e o potencial produtivo permanecerem os mesmos, apenas o mecanismo econômico mudou. Se os economistas ocidentais estavam certos, então deveríamos ter esperado o crescimento e um salto do padrão de vida depois do choque econômico de Yeltsin. Em vez disso, o país se tornou uma economia de exportação primária. A produção industrial caiu, indústrias tecnologicamente avançadas atrofiaram e os padrões de vida caíram tanto que a taxa de mortalidade aumentou em mais de um terço levando a cerca de 7,7 milhões de mortes extras.''

 Para muitos russos, a vida tornou-se mensuravelmente pior.

''Se você fosse velho, se você fosse um camponês, se você fosse um trabalhador manual, o mercado era muito pior do que a economia soviética relativamente estagnada de Brejnev. A recuperação com Putin, tal como foi, veio quase que inteiramente como um efeito colateral do aumento dos preços mundiais do petróleo, o próprio processo que havia operado na gestão de Brejnev'' [10].

 Ao mesmo tempo em que o retorno do capitalismo tornou a vida mais difícil para uns, foi letal para outros. De 1991 a 1994, a expectativa de vida na Rússia caiu 5 anos. Até 2008, havia caído para menos de 60 anos para os homens russos, um total de 7 anos mais baixo que em 1985, quando Gorbachev chegou ao poder e começou a desmontar o socialismo soviético. Hoje ''apenas um pouco mais da metade dos países ex-socialistas recuperaram seus níveis de expectativa de vida pré-transição'', de acordo com um estudo publicado na revista médica The Lancet [11].

 ''A vida era melhor sob os comunistas'', conclui Aleksandr. ''As lojas estão cheias de coisas, mas elas são muito caras''. Victor fala com tristeza da ''estabilidade de uma era anterior com de cuidados médicos acessíveis, educação superior gratuita, moradia e a promessa de uma confortável aposentadoria — as coisas agora estão fora do seu alcance'' [12]. Um relatório de 2008 no Globe and Mail, um jornal canadense, observou que ''muitos russos entrevistados ainda sofrem por seu grande país perdido''. Entre os entrevistados está Zhanna Sribnaya, 37, um escritor moscovita. Sribnaya lembra dos ''acampamentos de Pioneiros quando todos poderiam ir para o Mar Negro para as férias de verão. Agora, apenas as pessoas com dinheiro podem tirar aquelas férias'' [13].

 Ion Vancea, um romeno que luta para sobreviver em uma quantia de US $ 40 por mês de pensão diz: "É verdade que não havia muito para comprar naquela época, mas agora os preços são tão altos que não temos dinheiro para comprar alimentos, bem como o pagamento de eletricidade. "Ecoando as palavras de muitos romenos, Vancea acrescenta:" A vida era 10 vezes melhor  com Ceausescu (líder do Partido Comunista romeno Nicolae) ". [14] Uma pesquisa de opinião realizada no ano passado constatou que Vancea não é a minoria. Conduzida pela organização romena polling CSOP, a pesquisa constatou que quase metade dos romenos achava que a vida era melhor sob Ceausescu, em comparação com menos de um quarto que achava que a vida é melhor hoje. E enquanto Ceauşescu é lembrado no Ocidente como um diabo vermelho, apenas sete por cento disseram que sofreu sob o comunismo. Por que metade dos romenos acham que a vida era melhor sob com os vermelhos? Eles apontam para o pleno emprego, condições de vida digna para todos, e de habitação garantidos - vantagens que desapareceram com a queda do comunismo. [15]

 Ao lado, na Bulgária, 80 por cento dizem que estão em situação pior agora que o país fez a transição para uma economia de mercado. Apenas cinco por cento dizem que seu padrão de vida melhorou. [16] Mimi Vitkova, que foi brevemente ministro da Saúde da Bulgária por dois anos em meados dos anos 90, resume a vida após a derrubada do socialismo: "Nós nunca fomos um país rico, mas quando tivemos socialismo nossos filhos eram saudáveis e bem alimentados”. Todos eles eram imunizados. Os aposentados e deficientes recebam cuidados e tinham medicamentos gratuitos. Nossos hospitais estavam gratuitos. “Mas as coisas mudaram, diz ela”. “Hoje, se uma pessoa não tem dinheiro, ela não tem o direito de ser curada”. E a maioria das pessoas não tem dinheiro. A nossa economia estava arruinada. [17] Em 2009, uma pesquisa conduzida pelo Pew Global Attitudes Project descobriu que um em cada nove búlgaros acredita que as pessoas comuns estão em melhor situação, como resultado da transição para o capitalismo. E poucos consideram que o Estado como representa os seus interesses. Apenas 16 por cento dizem que ele é executado em benefício de todas as pessoas. [18]

 Na antiga Alemanha Oriental um novo fenômeno surgiu: Ostalgie, uma nostalgia da RDA. Durante a Guerra Fria, a pobreza relativa da Alemanha Oriental foi atribuída à propriedade pública e planejamento central - serragem nas engrenagens do motor econômico, segundo a mitologia antissocialista. Mas a propaganda convenientemente ignora o fato de que a parte oriental da Alemanha tinha sido sempre menos desenvolvida do que o Ocidente, que tinha sido saqueado dos seus ativos humanos fundamentais no final da II Guerra Mundial pelas forças de ocupação estadunidenses, que a União Soviética tinha carregado tudo de valor para indenizar-se por suas perdas de guerra, e que a Alemanha Oriental suportou o peso das reparações da guerra da Alemanha à Moscou. [19] Além disso, aqueles que fugiram da Alemanha Oriental disseram ter escapar da repressão de um regime brutal, e enquanto alguns podem de fato ter sido ardentes anticomunistas  fugindo da repressão do Estado, a maioria eram refugiados econômicos, buscando o abraço de um Oeste mais próspero, cujas riquezas dependia, em grande medida, de uma história de escravidão, colonialismo e imperialismo em processos de acumulação de capital , os países comunistas evitaram e gastaram recursos preciosos lutando contra.

 Hoje, ninguém de mente sem preconceitos diria que a riqueza prometida a alemães orientais se concretizaram. O desemprego, uma vez inédito, é executado na casa dos dois dígitos e aluguéis dispararam. A infraestrutura da região industrial - mais fraca do que a Alemanha Ocidental durante a Guerra Fria, mas em expansão - agora tem tudo, mas desapareceu. E a população está diminuindo, como refugiados econômicos, seguindo os passos de refugiados da Guerra Fria antes deles fazerem o seu caminho para o oeste em busca de empregos e oportunidades. [20] "Fomos ensinados que o capitalismo era cruel", lembra Ralf Caemmerer, que trabalha para Otis Elevator. "Você sabe, não vir a ser um absurdo." [21] Quanto à alegação de que os alemães orientais têm "liberdade" Heinz Kessler, um ex-ministro da Defesa da Alemanha Oriental responde com sarcasmo: “Milhões de pessoas na Europa Oriental são agora livre de emprego, livre de ruas seguras, livre de cuidados de saúde, livre de segurança social”. “[22] Ainda assim, Howard Zinn ficou contente que o comunismo tenha colapsado”. Mas então, ele não viveu na Alemanha Oriental.

 Então, quem está fazendo o melhor? Vaclav Havel, o dramaturgo tcheco virou presidente, veio de uma proeminente, família veementemente antissocialista de Praga, que teve  extensivas explorações", incluindo as empresas de construção, imobiliário e os estúdios de cinema Barrandov Praque". [23] A joia da coroa das explorações familiares de Havel foi o Palácio de Lucerna ", um palácio do prazer, de galerias, teatros, cinemas, casas noturnas, restaurantes e salões de baile," de acordo com Frommer. “Tornou-se “um local popular para novos ricos da cidade para se reunirem”, incluindo o jovem Havel que foi criado a pão de ló por uma governanta, adorado pelos empregados, e com motorista em torno da cidade em automóveis caros “, passou seus primeiros anos de vida em pisos de mármore polido do Lucerna "Então, a tragédia se abateu - pelo menos, do ponto de vista de Havel. Os vermelhos expropriaram Lucerna e outras explorações da família, e colocou-os para usar para o bem comum, ao invés de com a finalidade de proporcionar aos jovens Havel com mais servos. Havel foi enviado para trabalhar em uma cervejaria.

"Eu era diferente dos meus colegas cujas famílias não tinham empregadas domésticas, enfermeiras ou chauffeurs", Havel escreveu uma vez. "Mas eu experimentei essas diferenças como desvantagem. Eu me senti excluído da companhia dos meus colegas. "[24] No entanto, a companhia de seus pares não deve ter sido do agrado de Havel, pois, como presidente, ele foi rápido em recuperar o Silver Spoon que os comunistas tinham levado de sua boca. Celebrado em todo o Ocidente como um herói da liberdade intelectual, ele era, em vez disso um herói da restauração capitalista, presidindo sobre um retorno em massa de bens nacionalizados, incluindo Lucerna e outras posses de sua família.

 A Igreja Católica Romana é outra vencedora. O governo húngaro pró-capitalista devolveu para a Igreja Católica Romana grande parte da propriedade nacionalizada pelos comunistas que colocaram o imóvel sob propriedade comum para o bem público. Com a recuperação de muitas das propriedades do leste europeu e Europa Central  uma vez possuído, a Igreja é capaz de recuperar o seu papel pré-socialista de parasita - raking em vastas quantidades de riqueza fácil de alugada, um privilégio concedido por nenhuma outra razão do que ser é dona do título para a terra. Hungria também paga o Vaticano anuidade 9,2 milhão dólares para a propriedade tem sido incapaz de retornar. [25] (Note-se que a pesquisa de 2008 de 1.000 húngaros pela empresa de pesquisas húngaro Gif Piackutato descobriu que 60 por cento descreveu a era do regime comunista sob a liderança do comunista Janos Kadar como Hungria a mais feliz, enquanto apenas 14 por cento disseram o mesmo sobre a era pós-comunista . [26])

 A Igreja, os ex-proprietários das terras e CEOs de lado, a maioria das pessoas do antigo bloco socialista não estão satisfeitas que os ganhos das revoluções socialistas foram invertidos. Três quartos dos russos, de acordo com uma pesquisa [27] de 1999 lamentam o fim da União Soviética. E a sua avaliação do status quo é agradavelmente lúcida. Quase 80 por cento reconhecem a democracia liberal como fachada para um governo controlado pelos ricos. A maioria (corretamente) identifica a causa de seu empobrecimento como um sistema econômico injusto (capitalismo), que, de acordo com 80 por cento, produz "desigualdades excessivas e ilegítimas". [28] A solução, na opinião da maioria, é voltar para o socialismo, mesmo que isso signifique regime de partido único. Os russos lamentam  pelo historiador anticomunista Richard Pipes que eles não tenham gosto para a democracia multipartidária dos estadunidenses, e parecem incapazes de serem curados de sua predileção por líderes soviéticos. Em uma pesquisa, os russos foram convidados a listar os 10 maiores pessoas de todos os tempos, de todas as nações. Lênin ficou em segundo lugar, Stálin quarto e Pedro, o Grande veio primeiro. Pipes parece genuinamente chateado por eles não terem escolhidos o seu antigo chefe, Ronald Reagan, e está farto de que depois de anos da antissocialista  propaganda pró-capitalista, os russos continuam comprometidos com a ideia de que a atividade econômica privada deve ser restrita, e "a governo [precisa] se envolver mais na vida econômica do país ". [29] Uma pesquisa de opinião que perguntou aos russos qual sistema socioeconômico são a preferem produziu estes resultados:

• O planejamento estatal e distribuição, 58%;

• Com base na propriedade privada e de distribuição, 28%;

• É difícil dizer, 14%. [30]

 Assim, se os povos empobrecidos dos países outrora socialistas sentem falta dos atrativos antigos do socialismo, por que os comunistas não voltam? O socialismo não pode ser ligado com o apertar de um botão. As antigas economias socialistas foram privatizadas e colocadas sob o controle do mercado. Aqueles que aceitam as metas e os valores do capitalismo foram recrutados para ocupar escritórios centrais do Estado. E as estruturas econômicas, jurídicas e políticas foram alteradas para acomodar a produção privada com fins lucrativos. É verdade que há vagas para os partidos comunistas para operar dentro das novas democracias liberais multipartidárias, mas os comunistas agora competem com muito mais generosamente financiados partidos nas sociedades em que seus inimigos tenham restaurado a sua riqueza e os privilégios e usá-los para inclinar o campo de jogo fortemente em seu favor. Eles são donos dos meios de comunicação e, portanto, estão em condições de moldar a opinião pública e dar aos partidos da propriedade privada o apoio crítico durante as eleições. Eles gastam muito dinheiro em fazer lobby junto ao Estado e os políticos e gerenciando think-tanks que produzem séries de recomendações políticas e abastecem os meios de comunicação social com comentário de ''expert" pró-capitalistas. Eles definem a agenda nas universidades através de doações, subvenções e financiamento de cadeiras especiais para estudar questões de interesse para os seus lucros. Eles trazem os políticos sob seu domínio  distribuindo generosas contribuições de campanha e promessas de lucrativas oportunidades de emprego pós-carreira política. É de se admirar que os comunistas não são votados para voltar ao poder? Democracia capitalista significa democracia para uns poucos, — os capitalistas — e não uma igualdade de condições em que a riqueza, propriedade privada e privilégio, não importam.

 E quem pensa que comunistas podem ser eleitos para cargos devem familiarizar-se com a política externa dos EUA vis-a-vis Chile por volta de 1973. Os Estados Unidos armou um golpe para derrubar o socialista Salvador Allende, com o fundamento de que os chilenos não poderiam ser autorizados a fazer a escolha "irresponsável" de eleger um homem Cold Warriors considerado como um comunista. Mais recentemente, os Estados Unidos, União Europeia e Israel, se recusaram a aceitar a eleição do Hamas nos territórios palestinos, o tempo todo, hipocritamente, apresentaram-se como campeões e guardiães da democracia.

 É claro que nenhum passo em frente serão tomados, podem ser tomadas, até que uma parte decisiva da população fique descontente e rejeite o que existe hoje, e esteja convencida que algo melhor é possível e está disposta a tolerar os levantes de transição. Algo melhor do que a insegurança econômica incessante, privado (e para muitos, inacessíveis) cuidados de saúde e educação, e grande desigualdade, isto é possível. Os comunistas provaram isso. Era a realidade na União Soviética, na China (por um tempo), na Europa Oriental, e hoje, paira sobre em Cuba e Coréia do Norte, apesar do incessante e longo alcance dos esforços dos Estados Unidos para esmagá-lo.


 Não deve ser nenhuma surpresa que Vaclav Havel, como outros cuja supremacia econômica e política foram destruídas pelos comunistas, foi um lutador incansável contra o socialismo, e que ele e outros  que buscavam reverter os ganhos da revolução foram reprimidos, e às vezes amordaçados e presos pelos novos regimes. Esperar o contrário é fechar os olhos para a luta determinada que fosse exercida pelos inimigos do socialismo, mesmo depois que as forças socialistas tomaram o poder.
As forças da reação conservam o seu dinheiro, seus bens móveis, as vantagens da educação, e acima de tudo, as suas ligações internacionais. Para conceder-lhes total liberdade é conceder-lhes uma mão livre para organizar a queda do socialismo, para receber assistência material do exterior para reverter a revolução, e para elevar o mercado e a propriedade privada, mais uma vez com os princípios de regulação da economia. Poucos campeões das liberdades civis argumentam que, no interesse da liberdade de expressão, liberdade de reunião e de liberdade de imprensa, que os alemães deveriam ser autorizados a realizar comícios pró-nazistas, estabelecer uma imprensa pró-nazista, e organizar partidos políticos fascistas, para voltar aos dias do Terceiro Reich. Para sobreviver, qualquer governo socialista, deve, necessariamente, ser repressiva em relação aos seus inimigos, que, como Havel, buscará sua derrota e do retorno de suas posições privilegiadas. Este é demonizado como totalitarismo por aqueles que têm interesse em que prevalecem as forças antissocialistas, consideramos as liberdades civis e políticos (como a um mundo de abundância para todos) como o ápice da realização humana, ou têm uma visão exageradamente otimista das possibilidades para a sobrevivência das ilhas socialistas em um mar de Estados capitalistas predadores.

 Onde os comunistas têm prevalecido, o resultado tem sido de grande alcance ganho material para o grosso da população: o pleno emprego, cuidados de saúde gratuitos, educação gratuita até a universidade, puericultura gratuito e subsidiado, acomodações de vida baratos e transporte público barato. A expectativa de vida aumentou, o analfabetismo foi dizimado, e falta de moradia, desemprego e insegurança econômica foram abolidos. Conflitos raciais e tensões étnicas foram reduzidos a quase o ponto de fuga. E as desigualdades de riqueza, renda, oportunidade e educação têm sido muito reduzidas. Onde comunistas foram derrubados, o desemprego em massa, o subdesenvolvimento, a fome, as doenças, o analfabetismo, a falta de moradia, e os conflitos raciais vem recrudescendo como as propriedades, explorações e privilégios dos antigos gatos gordos foram restaurados. Comunistas produziram ganhos no interesse de toda a humanidade, alcançado em face de condições muito difíceis, incluindo a hostilidade incessante do Ocidente e do esforço incessante de antigos exploradores para restaurar o status quo de antes.



Notas e fontes


1. Howard Zinn, “Beyond the Soviet Union,” Znet Commentary, September 2, 1999.

2. “Left behind by the luxury train,” The Globe and Mail, March 29, 2000.

3. “Support dwindling in Czech Republic, Hungary, Poland,” The Chicago Tribune, May 27, 2001.

4. Dan Bilefsky, “Polish left gets transfusion of young blood,” The New York Times, March 12, 2010.

5. “Support dwindling in Czech Republic, Hungary, Poland,” The Chicago Tribune, May 27, 2001.

6. “An epidemic of street kids overwhelms Russian cities,” The Globe and Mail, April 16, 2002.

7. “UN report says one billion suffer extreme poverty,” World Socialist Web Site, July 28, 2003.

8. Associated Press, October 11, 2000.

9. “UN report….

10. Paul Cockshott, “Book review: Red Plenty by Francis Spufford”, Marxism-Leninism Today, http://mltoday.com/en/subject-areas/books-arts-and-literature/book-review-red-plenty-986-2.html

11. David Stuckler,  Lawrence King  and Martin McKee, “Mass Privatization and the Post-Communist Mortality Crisis:  A Cross-National Analysis,”   Judy Dempsey, “Study looks at mortality in post-Soviet era,” The New York Times, January 16, 2009.

12. “In Post-U.S.S.R. Russia, Any Job Is a Good Job,” New York Times, January 11, 2004.

13. Globe and Mail (Canada), June 9, 2008.

14. “Disdain for Ceausescu passing as economy worsens,” The Globe and Mail, December 23, 1999.

15. James Cross, “Romanians say communism was better than capitalism”, 21st Century Socialism, October 18, 2010. http://21stcenturysocialism.com/article/romanians_say_communism_was_better_than_capitalism_02030.html “Opinion poll: 61% of Romanians consider communism a good idea”, ActMedia Romanian News Agency, September 27, 2010. http://www.actmedia.eu/top+story/opinion+poll%3A+61%25+of+romanians+consider+communism+a+good+idea/29726

16. “Bulgarians feel swindled after 13 years of capitalism,” AFP, December 19, 2002.

17. “Bulgaria tribunal examines NATO war crimes,” Workers World, November 9, 2000.

18. Matthew Brunwasser, “Bulgaria still stuck in trauma of transition,” The New York Times, November 11, 2009.

19. Jacques R. Pauwels, “The Myth of the Good War: America in the Second World War,” James Lorimer & Company, Toronto, 2002. p. 232-235.

20. “Warm, Fuzzy Feeling for East Germany’s Grey Old Days,” New York Times, January 13, 2004.

21. “Hard lessons in capitalism for Europe’s unions,” The Los Angeles Times, July 21, 2003.

22. New York Times, July 20, 1996, cited in Michael Parenti, “Blackshirts & Reds: Rational Fascism & the Overthrow of Communism,” City Light Books, San Francisco, 1997, p. 118.

23. Leos Rousek, “Czech playwright, dissident rose to become president”, The Wall Street Journal, December 19, 2011.

24. Dan Bilefsky and Jane Perlez, “Czechs’ dissident conscience, turned president”, The New York Times, December 18, 2011.

25. U.S. Department of State, “Summary of Property Restitution in Central and Eastern Europe,” September 10, 2003. http://www.state.gov/p/eur/rls/or/2003/31415.htm

26. “Poll shows majority of Hungarians feel life was better under communism,” May 21, 2008, www.politics.hu

27. Cited in Richard Pipes, “Flight from Freedom: What Russians Think and Want,” Foreign Affairs, May/June 2004.

28. Ibid.

29. Ibid.

30. “Russia Nw”, in The Washington Post, March 25, 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário