segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O problema da educação robotizadora

 Semana passada, eu li uma passagem do livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios, de Carl Sagan, na qual o autor reclamava que os jovens, por um motivo que ainda não sabemos explicar direito, perdem a curiosidade e as dúvidas, que existem à beça na infância. O escritor tcheco Milan Kundera, em seu livro A Insustentável Leveza do Ser, afirma que  as perguntas mais fundamentais são justamente aquelas feitas pelas crianças. O que acontece com nossos jovens? Que mudança é essa que os transforma de pequenos seres humanos cheios de dúvidas e questionamentos sobre o mundo à adultos e adolescentes autômatos, satisfeitos com respostas insuficientes (E/ou equivocadas) sobre o mundo, vivendo como robôs automáticos, sem se questionar sobre questões tão importantes (Ou que, ao menos parar mim, parecem importantes.Talvez seja porque eu não tenha um deus das lacunas para preencher esse vazio...), tais como a origem da vida e do universo?

 Eu gostaria de expôr aqui aquilo que, na minha opinião, é a principal causa disso: a educação robotizadora. Deixe-me explicar melhor: Desde pequenos, fazemos perguntas que nossos pais raramente conseguem responder sem constrangimento. ''De onde eu vim?'',''De onde nós viemos?'', ''Por quê isso é assim?'',''Por quê aquilo é assado?'' e suas variações são exemplo disso. Os pais, que não sabem respondê-los de forma correta, dizem coisas como  ''Deixa de pergunta besta, menino!'' e por aí vai. As crianças vão criando a noção de que a curiosidade é algo ruim, e que não se deve fazer perguntas, deve-se apenas obedecer. A coisa só piora na escola: somos apresentados à uma grande gama de conhecimentos, que simplesmente nos dizem estar corretos, sem nos explicar o porquê (Apesar do rigoroso processo de seleção que existe para a construção do material de estudos). Os professores, muitas vezes, transmitem o assunto de forma desinteressante, tornando-o um fardo na cabeça do aluno, que preferia dez mil vezes assistir a novela do que aprender como funciona a mecânica newtoniana, por exemplo. Os alunos não se interessam no conteúdo, apesar do mesmo ser uma forma de compreender a realidade, e ao invés de aprendê-lo, para usá-lo como ferramenta de entendimento, apenas o decoram para tirar um 7 na prova, sem nem ao menos questionar sua validade. E fim. Nada mais.
 O aluno passa a funcionar como um dos operários no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin: torna-se mais uma máquina que funciona recebendo e depositando informações do que como uma pessoa que interage com o conhecimento. Eu também sou ''vítima'' desse problema: numa apresentação recente de filosofia, sobre Descartes, li um slide sobre as ''provas'' da existência de deus segundo Descartes. Uma das frases do slide era ''O ser pensante não pode ter sido o criador de si próprio, pois se o tivesse feito seria perfeito e não imperfeito. Portanto só a perfeição divina pode ter criado o homem (ser imperfeito)''. Claro que eu poderia argumentar no meio da leitura que desde 1859, graças ao tio Darwin, nós já sabemos muito bem que os seres vivos não precisam de um criador, mas nem pensei nisso: agi no automático, servindo só como uma via de informação, sem me importar em criticar. É ai que está o problema: próximo do fim do ensino fundamenta e durante o ensino médio, os conteúdos que o aluno recebe em sala são apenas ''enchimento de linguiça'', transmitidos para que o aluno passe no ENEM  e ponto final. Poucos tem prazer em aprender ciência- logo ela, essa linda! -, tampouco querem aprender literatura, ou filosofia, ou história, e por ai vai. E estão justificados!  Poucos colégios mantêm aulas práticas de física ou química, com demonstrações experimentais do assunto que está sendo aplicado. Nas aulas de matemática, não se mostra como o universo obedece à geometria euclidiana, ou que a sequência de Fibonacci está nas coisas que consideramos mais harmônicas esteticamente. Em biologia, já não estudamos teorias de origem da vida, nem os fabulosos dinossauros (Há algum tempo, uma amiga que gosto muito disse que não acreditava em dinossauros. ''Muita fantasia pra mim'', disse ela, ou algo do tipo). Em filosofia, tudo se resume à nóias metafísicas antipáticas. Onde está a filosofia política de Maquiavel, ou o descontrutivismo de um Derrida? Em inglês, onde estão os fantásticos textos de Shakespeare? Tudo se resume à regras e regras gramaticais, sem que você sequer aprenda a pronunciar um ''What a beautiful sunset!''. 
Tudo isso contribui para que ir à escola seja a experiência mais chata do universo. E a chave para resolver esse problema é simples: tornar o conteúdo apresentado mais interessante. Que aluno não ficaria animado para apresentar um seminário de física  sobre a incrível variabilidade de estrelas e planetas da nossa e de outras galáxias? Qual o aluno que não gostaria de ouvir, nas aulas de filosofia, como Sócrates, com sua retórica Hitchensiana, refutou Trasímaco (que havia dito que, numa sociedade de gente boazinha, era melhor ser malandro e fdpzar com todo mundo só pra se dar bem)? Ou das tretas de Francis Bacon com o amigo que liderava uma oposição contra a rainha? Quem não ficaria extasiado ao saber que a matéria que compõe nossos corpos fora forjada no interior das estrelas de muito tempo atrás? Nenhum. Mas não basta simplesmente dizer isso ao aluno. Trazer experiências, documentos e livros, debater com a turma sobre determinadas questões controversas sobre conteúdo, perguntar aos alunos se eles tem alguma pergunta à fazer sobre a área em que o professor é formado (Graças à uma substituição recente de material de estudo, minha turma ficou sem ver teorias de origem da vida e genética em biologia, por exemplo. Não houve quase ninguém pedindo ao professor que nos ensinasse isso depois, em uma aula à tarde. E olha que são dois assuntos incríveis, não só necessários ao aluno que prestará ENEM e vestibulares como também incríveis auxiliares na busca da compreensão dos mistérios que envolvem nossos organismos). Talvez seja hora de repensar se o nosso velho método de ensinar é adequado, e se não é melhor fazer como os antigos gregos: andar por aí discutindo as perguntas mais fundamentais sobre o homem e o mundo...

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