O escritor russo Fiódor Dostoiévski é famosamente conhecido pela frase de seu personagem mau-caráter Ivan Karamazov, no romance Irmãos Karamazov: ''Se deus não existe, tudo é permitido''. Dois filósofos contemporâneos, Andre Comte-Sponville e Michel Onfray, responderam ao dilema que surgiu a partir dessa pergunta: Se deus não existe, tudo é permitido? A seguir, vem a resposta de Andre. Deixarei a resposta de Michel Onfray para depois, pois ela migra para um ponto que é interessante abordar de outra forma.
''Não muda em nada, em pouco ou quase nada(...)não é porque você perdeu a fé que você vai trair seus amigos, roubar ou estuprar, assassinar ou torturar. 'Se deus não existe, tudo é permitido?', como disse o personagem de Dostoiévski? Claro que não, já que não me permito tudo! A moral é autônoma-como demonstra Kant-ou não é moral. Quem só se impedisse de matar por medo de uma sanção divina teria um comportamento sem valor moral-seria apenas uma prudência, um medo do policial divino, egoísmo. Quanto à quem só faz o bem para sua salvação, não faria o bem, já que agiria por interesse e não por dever ou por amor, e não seria salvo. É o ápice de Kant, das luzes e da humanidade: Não é por que deus me ordena alguma coisa que está certo, porque nesse caso poderia ter sido certo para Abraão matar seu filho. É porque uma ação é boa que é possível acreditar que ela é ordenada por deus. Não é mais a religião que funda a moral: é a moral que funda a religião; É onde começa a modernidade. Ter uma religião-diz a Crítica da Razão Prática-é reconhecer todos os deveres como mandamentos divinos. Para os que não tem ou deixaram de ter fé, já não há mandamentos, ou já não são divinos. Restam os deveres, que são os mandamentos que impomos à nós mesmos''.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
Meu Professor de História Mentiu Pra Mim: mais uma página do facebook espalhando merda pela internet
Nêgo disse que a inquisição foi um marco civilizatório e humanista na jurisprudência da idade média. Vamos ver o que o padre Friedrich Von Spee tem a dizer sobre o processo de julgamento na inquisição? Trecho de ''Cautio Criminalis'':
''1. Por incrível que pareça, entre nós, alemães, e especialmente
(envergonha-me dizê-lo) entre católicos, há superstições populares, inveja,
calúnias, difamações, insinuações e similares que, ao não ser punidas nem
refutadas, levantam a suspeita de bruxaria. Já não é Deus ou a natureza,
as bruxas são as responsáveis por tudo.
2. Por isso, ergue-se um clamor da população para que os magistrados investiguem às
bruxas... a quem só a intriga popular tem feito tão numerosas.
3. Os príncipes, em conseqüência, pedem a seus juizes e conselheiros que
abram os processos contra as bruxas.
4. Os juizes mal sabem por onde começar, pois não têm evidência ou prova.
5. Enquanto isso, as pessoas consideram suspeita essa demora; e os príncipes são persuadidos disso por um ou outro informante.
6. Na Alemanha, ofender a estes príncipes é um sério delito; até os
sacerdotes aprovam o que possa lhes agradar sem preocupar-se de quem
instigou aos príncipes (por muito bem intencionados que sejam).
7. Ao final, portanto, os juizes cedem a seus desejos e conseguem começar
os julgamentos.
8. Os juizes que se atrasam, temerosos de ver-se envoltos em assunto tão
espinhoso, recebem um investigador especial. Neste campo de investigação,
toda a inexperiência ou arrogância que se aplique à tarefa se considera zelo da
justiça. Este zelo também se vê estimulado pela expectativa de benefício,
especialmente para um agente pobre e avaro com uma família numerosa,
quando recebe como estipêndio tantos dólares por cabeça de bruxa queimada,
além das taxas incidentais e gratificações que os agentes instigadores têm
licença para arrancar a prazer daqueles aos que convocam.
9. Se os delírios de um louco ou algum rumor malicioso e ocioso
(porque não se necessita nunca uma prova do escândalo) apontam para alguma
pobre mulher inofensiva, ela é primeira em sofrer.
10. Entretanto, para evitar a aparência de que a acusa unicamente sobre a
base de um rumor, sem outras provas, obtém-se uma certa presunção de
culpabilidade ao expor o seguinte dilema: ou levou uma vida má e imprópria,
ou levou uma vida boa e própria. Se for má, deve ser culpada. Por outro lado,
se sua vida foi boa, é igual de imperdoável; porque as bruxas sempre disfarçam
com o fim de aparecer especialmente virtuosas.
11. Assim, a velha é encarceirada na prisão. Encontra-se uma nova prova
mediante um segundo dilema: ela tem medo ou não. Se o tiver (ouvindo falar das horríveis torturas que se utilizam contra as bruxas), é uma prova
segura; porque sua consciência a acusa. Se não mostrarmedo (confiando em
sua inocência), também é uma prova; porque é característico das bruxas simular
inocência e levar a frente alta.
12. Para que estas não sejam as únicas provas, o investigador faz que
seus detetives, freqüentemente depravados e infames, vasculhem em sua vida
anterior. Isto, certamente, não pode fazer-se sem que apareça alguma frase ou
ato da mulher que homens tão bem dispostos possam torcer ou distorcer para
convertê-lo em prova de bruxaria.
13. Qualquer pessoa que lhe queira mal agora tem grandes oportunidades de
fazer contra ela as acusações que deseje; e todo mundo diz que as evidências contra
ela são consistentes.
14. E assim apressa-se o caminho à tortura, a não ser, como acontece freqüentemente, que seja torturada no mesmo dia de sua detenção.
15. Nesses julgamentos não se permite a ninguém ter advogado nem
qualquer meio de defesa justa porque a bruxaria se considera um delito
excepcional [de tal enormidade que se podem suspender todas as normas legais
de procedimento], e quem se atreve a defender à prisioneira cai sob suspeita de
bruxaria pessoalmente... assim como os que ousam expressar um protesto
nestes casos e apressam aos juizes a exercitar a prudência, porque a partir de
então recebem o qualificativo de defensores da bruxaria. Assim, todo
mundo se cala por medo.
16. A fim de que possa parecer que a mulher tem uma oportunidade de
defender-se a si mesmo, levam-na ante o tribunal e se procede a ler e examinar
—se é que se pode chamar assim— os indícios de sua culpa.
17. Até no caso que negue essas acusações e responda adequadamente a
cada uma delas, não lhe emprestam atenção e nem sequer anotam suas
respostas; todas as acusações retêm sua força e validade, por mais perfeitas que
sejam as respostas (da réu). Ela é mandada de volta à prisão, para considerar mais cuidadosamente se vai persistir em sua obstinação- pois, como já negou sua culpa, ela é obstinada.
18. Ao dia seguinte, ela volta a comparecer no tribunal e ouve uma ordem de tortura- como se ela nunca tivesse refutados as acusações.
19. Antes da tortura, entretanto, ela é revistada para verificarem se não tem amuletos; todo o seu corpo é raspado, e mesmo as partes privadas que indicam o sexo femino são lascivamente examinadas.
20. O que há de tão chocante nisso? Os padres são tratados da mesma maneira.
21. Quando a mulher foi raspada e revistada, torturam-na para lhe fazer
confessar a verdade, quer dizer, para que declare o que eles querem, porque
naturalmente não há outra coisa que seja nem possa ser a verdade.
22. Começam com o primeiro grau, quer dizer, a tortura menos grave.
Embora excessivamente severa, é suave comparada com as que seguirão. Assim, se
confessar, dizem que a mulher confessou sem tortura!
23. Ora, que príncipe pode duvidar da culpa da mulher, quando lhe informam que ela confessou sem tortura?
24. Assim ela é condenada à morte sem escrúpulos. Mas a teriam executado
mesmo que não tivesse confessado; porque, assim que a tortura começou, os dados estão lançados; não pode escapar, tem que morrer à força.
25. O resultado é o mesmo tanto se confessar como se não. Se confessar,
sua culpa é clara: é executada. Qualquer retratação é em vão. Se não confessar,
a tortura se repete: dois, três, quatro vezes. Em delitos excepcionais, a tortura
não tem limite de duração, severidade ou freqüência.
26. Se, durante a tortura, a velha distorce as feições de dor, dizem
que ela está rindo; se desmaia, é que está dormindo ou enfeitiçou a si própria, tornando-se taciturna. E, se é taciturna, merece ser queimada viva, como ultimamente tem sido feito com algumas que, embora torturadas várias vezes, não se dispuseram a dizer o que os investigadores queriam ouvir.
27. E até os professores e os padres concordam que ela morreu obstinada e
impenitente; que não quis se converter,nem abandonar seu íncubo, mantendo-se fiel à ele.
28. Entretanto, se ela morre de tanta tortura, dizem que o diabo quebrou-lhe
o pescoço.
29. Por isso, o cadáver é enterrado debaixo da forca.
30. Por outro lado, se ela não morre sob tortura e se algum juiz
excepcionalmente escrupuloso hesita em torturá-la mais sem maiores provas ou
queimá-la sem confissão, mantêm-na na prisão e a encadeiam com a máxima
dureza para que apodreça até que ceda, embora possa passar um ano inteiro.
31. Ela nunca consegue se ver livre das acusações. O comitê investigador cairia em
desgraça se absolvesse uma mulher; uma vez presa e acorrentada, ela tem que ser
culpado, por meios justos ou infames.
32. Enquanto isso, sacerdotes ignorantes e teimosos atormentam a infeliz
criatura a fim de que, seja certo ou não, ela se confesse culpada; se não confessar, dizem eles, não poderá ser salva, nem receber os sacramentos.
33. Sacerdotes mais compreensivos ou cultos não podem visitá-la no
cárcere para evitar que lhe dêem conselho ou informem aos príncipes do que
ocorre. O mais temível é que apresentem algo que demonstre a inocência da
acusada. Quem tenta tal coisa é chamado de criador de encrenca.
34. Enquanto a mantêm na prisão e sob tortura, os juizes inventam
estratagemas inteligentes para reunir novas provas de culpa que a condenem sem sombra de dúvida de modo que, ao revisar o julgamento, um professor de
universidade possa confirmar que ela devia ser queimada viva.
35. Há juizes que, para aparentar uma escrupulosidade suprema, fazem
exorcizar à mulher, transferem-na à outra parte e voltam à torturá-la, para
romper seu silêncio; se ela continua calada, eles podem finalmente queimá-la.
Agora bem, em nome do Céu, eu gostaria de saber: já que a que confessa e a que não confessa morrem ambas do mesmo modo, como pode escapar alguém por mais
inocente que seja? Oh mulher infeliz, por que concebeste esperanças precipitadas?
Por que, ao entrar no cárcere, não admitiu em seguida tudo o que eles queriam? Por
que, mulher insensata e louca, desejou morrer tantas vezes quando poderia ter
morrido só uma? Segue meu conselho e, antes de suportar todos estes maus,
declare-se culpada e morra. Você não escapará, porque isso seria uma desgraça
catastrófica para o zelo da Alemanha.
36. Depois que, sobre o estresse da dor, a bruxa confessou, sua situação é
indescritível. Não só não pode escapar, mas também também se vê obrigada a
acusar a outras que não conhece, cujos nomes são frequentemente colocados em sua
boca pelos investigadores ou sugeridos pelo carrasco, ou pessoas de quem ouviu falar como suspeitas ou acusadas. Essas, por sua vez, se vêem forçadas a acusar a outras, e essas, a outras, e assim sucessivamente: quem não vê que o processo continuará infinitamente?
37. Os juizes devem suspender esses julgamentos (e assim negar sua
validez) ou então queimar seu próprio povo, a eles mesmos e a todos os demais; porque todos, antes ou depois, são acusados falsamente; e, depois da tortura, sempre se demonstra que são culpados.
38. Assim, finalmente, aqueles que primeiro levantaram bem alto a sua voz para alimentar as chamas acabam eles próprios, pois precipitadamente deixaram de ver que a sua vez também chegaria. Assim, o céu pune justamente aqueles que com suas línguas pestilentas criaram tantas bruxas e enviaram tantos inocentes para a fogueira...''
Pois é, né. Só que o Spee não deixa clara os métodos de tortura que eram usados na inquisição. Para isso, vamos ler um pouco do livro The encyclopedia of witchcraft and demonology, de Russel Hope Robbins:
''Pode-se dar uma olhada em algumas das torturas especiais em Bamberg: por exemplo, fazer a acusada ingerir a força arenques cozidos com sal e depois negar-lhe água- um método sofisticado, empregado lado a lado com a imersão da acusada em banhos de água escaldante a que fora acrescentada cal. Outras maneiras de torturar as bruxas compreendiam o cavalo de madeira, vários tipos de rodas, a cadeira de ferro incandescente, os tornos para as pernas (botas espanholas), e grandes botas de couro ou metal em que se despejava água fervendo e chumbo derretido (com os pés dentro, é claro). Na tortura da água, question de l'eau, despejava-se água pela garganta da acusada, junto com um pano macio para que ela engasgasse. O pano era rapidamente puxado para fora, de moda a dilacerar as entranhas da garganta da torturada. Os anjinhos (grésillons) eram um torno destinado a comprimir o polegar e o dedão do pé até a raíz da unha, para que o esmagamento do dedo causasse uma dor excruciante''.
E tudo isso aí com a bênção da ICAR, que só aboliu a tortura inquisitorial em 1816, enquanto a Holanda, berço do iluminismo, realizou a última execução por bruxaria em 1610. Que diferença, hein? Pois é. E ainda dizem por aí que a inquisição foi um marco humanista na história da humanidade e da idade média.
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
O problema da educação robotizadora
Semana passada, eu li uma passagem do livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios, de Carl Sagan, na qual o autor reclamava que os jovens, por um motivo que ainda não sabemos explicar direito, perdem a curiosidade e as dúvidas, que existem à beça na infância. O escritor tcheco Milan Kundera, em seu livro A Insustentável Leveza do Ser, afirma que as perguntas mais fundamentais são justamente aquelas feitas pelas crianças. O que acontece com nossos jovens? Que mudança é essa que os transforma de pequenos seres humanos cheios de dúvidas e questionamentos sobre o mundo à adultos e adolescentes autômatos, satisfeitos com respostas insuficientes (E/ou equivocadas) sobre o mundo, vivendo como robôs automáticos, sem se questionar sobre questões tão importantes (Ou que, ao menos parar mim, parecem importantes.Talvez seja porque eu não tenha um deus das lacunas para preencher esse vazio...), tais como a origem da vida e do universo?
Eu gostaria de expôr aqui aquilo que, na minha opinião, é a principal causa disso: a educação robotizadora. Deixe-me explicar melhor: Desde pequenos, fazemos perguntas que nossos pais raramente conseguem responder sem constrangimento. ''De onde eu vim?'',''De onde nós viemos?'', ''Por quê isso é assim?'',''Por quê aquilo é assado?'' e suas variações são exemplo disso. Os pais, que não sabem respondê-los de forma correta, dizem coisas como ''Deixa de pergunta besta, menino!'' e por aí vai. As crianças vão criando a noção de que a curiosidade é algo ruim, e que não se deve fazer perguntas, deve-se apenas obedecer. A coisa só piora na escola: somos apresentados à uma grande gama de conhecimentos, que simplesmente nos dizem estar corretos, sem nos explicar o porquê (Apesar do rigoroso processo de seleção que existe para a construção do material de estudos). Os professores, muitas vezes, transmitem o assunto de forma desinteressante, tornando-o um fardo na cabeça do aluno, que preferia dez mil vezes assistir a novela do que aprender como funciona a mecânica newtoniana, por exemplo. Os alunos não se interessam no conteúdo, apesar do mesmo ser uma forma de compreender a realidade, e ao invés de aprendê-lo, para usá-lo como ferramenta de entendimento, apenas o decoram para tirar um 7 na prova, sem nem ao menos questionar sua validade. E fim. Nada mais.
O aluno passa a funcionar como um dos operários no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin: torna-se mais uma máquina que funciona recebendo e depositando informações do que como uma pessoa que interage com o conhecimento. Eu também sou ''vítima'' desse problema: numa apresentação recente de filosofia, sobre Descartes, li um slide sobre as ''provas'' da existência de deus segundo Descartes. Uma das frases do slide era ''O ser pensante não pode ter sido o criador de si próprio, pois se o tivesse feito seria perfeito e não imperfeito. Portanto só a perfeição divina pode ter criado o homem (ser imperfeito)''. Claro que eu poderia argumentar no meio da leitura que desde 1859, graças ao tio Darwin, nós já sabemos muito bem que os seres vivos não precisam de um criador, mas nem pensei nisso: agi no automático, servindo só como uma via de informação, sem me importar em criticar. É ai que está o problema: próximo do fim do ensino fundamenta e durante o ensino médio, os conteúdos que o aluno recebe em sala são apenas ''enchimento de linguiça'', transmitidos para que o aluno passe no ENEM e ponto final. Poucos tem prazer em aprender ciência- logo ela, essa linda! -, tampouco querem aprender literatura, ou filosofia, ou história, e por ai vai. E estão justificados! Poucos colégios mantêm aulas práticas de física ou química, com demonstrações experimentais do assunto que está sendo aplicado. Nas aulas de matemática, não se mostra como o universo obedece à geometria euclidiana, ou que a sequência de Fibonacci está nas coisas que consideramos mais harmônicas esteticamente. Em biologia, já não estudamos teorias de origem da vida, nem os fabulosos dinossauros (Há algum tempo, uma amiga que gosto muito disse que não acreditava em dinossauros. ''Muita fantasia pra mim'', disse ela, ou algo do tipo). Em filosofia, tudo se resume à nóias metafísicas antipáticas. Onde está a filosofia política de Maquiavel, ou o descontrutivismo de um Derrida? Em inglês, onde estão os fantásticos textos de Shakespeare? Tudo se resume à regras e regras gramaticais, sem que você sequer aprenda a pronunciar um ''What a beautiful sunset!''.
Tudo isso contribui para que ir à escola seja a experiência mais chata do universo. E a chave para resolver esse problema é simples: tornar o conteúdo apresentado mais interessante. Que aluno não ficaria animado para apresentar um seminário de física sobre a incrível variabilidade de estrelas e planetas da nossa e de outras galáxias? Qual o aluno que não gostaria de ouvir, nas aulas de filosofia, como Sócrates, com sua retórica Hitchensiana, refutou Trasímaco (que havia dito que, numa sociedade de gente boazinha, era melhor ser malandro e fdpzar com todo mundo só pra se dar bem)? Ou das tretas de Francis Bacon com o amigo que liderava uma oposição contra a rainha? Quem não ficaria extasiado ao saber que a matéria que compõe nossos corpos fora forjada no interior das estrelas de muito tempo atrás? Nenhum. Mas não basta simplesmente dizer isso ao aluno. Trazer experiências, documentos e livros, debater com a turma sobre determinadas questões controversas sobre conteúdo, perguntar aos alunos se eles tem alguma pergunta à fazer sobre a área em que o professor é formado (Graças à uma substituição recente de material de estudo, minha turma ficou sem ver teorias de origem da vida e genética em biologia, por exemplo. Não houve quase ninguém pedindo ao professor que nos ensinasse isso depois, em uma aula à tarde. E olha que são dois assuntos incríveis, não só necessários ao aluno que prestará ENEM e vestibulares como também incríveis auxiliares na busca da compreensão dos mistérios que envolvem nossos organismos). Talvez seja hora de repensar se o nosso velho método de ensinar é adequado, e se não é melhor fazer como os antigos gregos: andar por aí discutindo as perguntas mais fundamentais sobre o homem e o mundo...
Eu gostaria de expôr aqui aquilo que, na minha opinião, é a principal causa disso: a educação robotizadora. Deixe-me explicar melhor: Desde pequenos, fazemos perguntas que nossos pais raramente conseguem responder sem constrangimento. ''De onde eu vim?'',''De onde nós viemos?'', ''Por quê isso é assim?'',''Por quê aquilo é assado?'' e suas variações são exemplo disso. Os pais, que não sabem respondê-los de forma correta, dizem coisas como ''Deixa de pergunta besta, menino!'' e por aí vai. As crianças vão criando a noção de que a curiosidade é algo ruim, e que não se deve fazer perguntas, deve-se apenas obedecer. A coisa só piora na escola: somos apresentados à uma grande gama de conhecimentos, que simplesmente nos dizem estar corretos, sem nos explicar o porquê (Apesar do rigoroso processo de seleção que existe para a construção do material de estudos). Os professores, muitas vezes, transmitem o assunto de forma desinteressante, tornando-o um fardo na cabeça do aluno, que preferia dez mil vezes assistir a novela do que aprender como funciona a mecânica newtoniana, por exemplo. Os alunos não se interessam no conteúdo, apesar do mesmo ser uma forma de compreender a realidade, e ao invés de aprendê-lo, para usá-lo como ferramenta de entendimento, apenas o decoram para tirar um 7 na prova, sem nem ao menos questionar sua validade. E fim. Nada mais.
O aluno passa a funcionar como um dos operários no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin: torna-se mais uma máquina que funciona recebendo e depositando informações do que como uma pessoa que interage com o conhecimento. Eu também sou ''vítima'' desse problema: numa apresentação recente de filosofia, sobre Descartes, li um slide sobre as ''provas'' da existência de deus segundo Descartes. Uma das frases do slide era ''O ser pensante não pode ter sido o criador de si próprio, pois se o tivesse feito seria perfeito e não imperfeito. Portanto só a perfeição divina pode ter criado o homem (ser imperfeito)''. Claro que eu poderia argumentar no meio da leitura que desde 1859, graças ao tio Darwin, nós já sabemos muito bem que os seres vivos não precisam de um criador, mas nem pensei nisso: agi no automático, servindo só como uma via de informação, sem me importar em criticar. É ai que está o problema: próximo do fim do ensino fundamenta e durante o ensino médio, os conteúdos que o aluno recebe em sala são apenas ''enchimento de linguiça'', transmitidos para que o aluno passe no ENEM e ponto final. Poucos tem prazer em aprender ciência- logo ela, essa linda! -, tampouco querem aprender literatura, ou filosofia, ou história, e por ai vai. E estão justificados! Poucos colégios mantêm aulas práticas de física ou química, com demonstrações experimentais do assunto que está sendo aplicado. Nas aulas de matemática, não se mostra como o universo obedece à geometria euclidiana, ou que a sequência de Fibonacci está nas coisas que consideramos mais harmônicas esteticamente. Em biologia, já não estudamos teorias de origem da vida, nem os fabulosos dinossauros (Há algum tempo, uma amiga que gosto muito disse que não acreditava em dinossauros. ''Muita fantasia pra mim'', disse ela, ou algo do tipo). Em filosofia, tudo se resume à nóias metafísicas antipáticas. Onde está a filosofia política de Maquiavel, ou o descontrutivismo de um Derrida? Em inglês, onde estão os fantásticos textos de Shakespeare? Tudo se resume à regras e regras gramaticais, sem que você sequer aprenda a pronunciar um ''What a beautiful sunset!''.
Tudo isso contribui para que ir à escola seja a experiência mais chata do universo. E a chave para resolver esse problema é simples: tornar o conteúdo apresentado mais interessante. Que aluno não ficaria animado para apresentar um seminário de física sobre a incrível variabilidade de estrelas e planetas da nossa e de outras galáxias? Qual o aluno que não gostaria de ouvir, nas aulas de filosofia, como Sócrates, com sua retórica Hitchensiana, refutou Trasímaco (que havia dito que, numa sociedade de gente boazinha, era melhor ser malandro e fdpzar com todo mundo só pra se dar bem)? Ou das tretas de Francis Bacon com o amigo que liderava uma oposição contra a rainha? Quem não ficaria extasiado ao saber que a matéria que compõe nossos corpos fora forjada no interior das estrelas de muito tempo atrás? Nenhum. Mas não basta simplesmente dizer isso ao aluno. Trazer experiências, documentos e livros, debater com a turma sobre determinadas questões controversas sobre conteúdo, perguntar aos alunos se eles tem alguma pergunta à fazer sobre a área em que o professor é formado (Graças à uma substituição recente de material de estudo, minha turma ficou sem ver teorias de origem da vida e genética em biologia, por exemplo. Não houve quase ninguém pedindo ao professor que nos ensinasse isso depois, em uma aula à tarde. E olha que são dois assuntos incríveis, não só necessários ao aluno que prestará ENEM e vestibulares como também incríveis auxiliares na busca da compreensão dos mistérios que envolvem nossos organismos). Talvez seja hora de repensar se o nosso velho método de ensinar é adequado, e se não é melhor fazer como os antigos gregos: andar por aí discutindo as perguntas mais fundamentais sobre o homem e o mundo...
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