O texto abaixo é um trecho do livro A ascensão do ''resto'': os desafios ao Ocidente de economias com industrialização tardia (2009), de Alice Amsden - professora de Economia política no Departamento de estudos urbanos e planejamento do M.I.T.
As implicações para a teoria do desenvolvimento econômico da renúncia à premissa do conhecimento perfeito são radicais, mas mal começaram a ser exploradas.
Se o conhecimento não é perfeito, então a produtividade e a qualidade podem variar entre empresas de uma mesma indústria em diferentes países. Por conseguinte, simplesmente permitir que o mecanismo de mercado determine o nível dos preços ('''acertar' os preços'') pode não bastar para permitir que os países concorram internacionalmente em indústrias em que precisem desfrutar de uma vantagem competitiva (indústrias que utilizem mão-de-obra, no caso de países com mão-de-obra abundante, indústrias que utilizem matéria-prima, no caso de países com matéria-prima abundante, e assim por diante). O preço da mão-de-obra, por exemplo, pode ter de ficar negativo antes que um país com mão-de-obra abundante se torne internacionalmente competitivo na indústria que mais utiliza mão-de-obra (mantendo-se constantes a produtividade e a qualidade), já que os ativos exclusivos baseados no conhecimento de um concorrente com salários maiores pode proporcionar a este último custos unitários mais baixos -- como vimos no caso da indústria têxtil japonesa em comparação com as indústrias têxteis indiana e chinesa no pré-guerra e com as indústrias têxteis taiwanesa e coreana no pós-guerra.
Além disso, sob condições de conhecimento imperfeito, mesmo que '''acertar' os preços positivos'' gere competitividade internacional (mediante, digamos, a desvalorização da taxa de câmbio ou, o que dá no mesmo, a redução dos salários), esta não é uma solução ''ótima segundo Pareto'', definida como a melhor de todas as políticas, em que nenhum ator econômico pode melhorar a própria situação sem piorar a de um outro ator econômico. Nem a abordagem mercadológica nem a institucional ocupam uma posição moral ou teórica mais elevada. Como vimos no ''resto'' [1], pode ser mais proveitoso para o crescimento (e mais rápido -- e sobre isso a teria não nos pode dizer nada) elevar a produtividade por meio da engenharia institucional do que reduzir custos cortando salários.
Portanto, na ausência do conhecimento perfeito, a resolução do problema dos altos custos de produção torna-se uma questão antes empírica do que teórica.
Renunciar à premissa do conhecimento perfeito também significa abrir ainda mais as portas à possibilidade de elaborar teorias indutivas de desenvolvimento econômico. Modelos indutivos utilizam casos concretos de expansão industrial, em vez de hipóteses abstratas, para explicar o crescimento e orientar a formulação de políticas. Duas inferências da experiência do ''resto'' podem são relevantes nesse sentido.
Primeiro, os modelos indutivos podem influenciar a formulação de políticas econômicas mais do que (ou tanto quanto) teorias abstratas dedutivas. A influência de um modelo foi notável no caso das políticas tão bem-sucedidas de promoção às exportações no Leste Asiático, que extraíram exportações das indústrias de substituição de importações, tendo como base o antigo regime comercial (políticas e instituições) do Japão. Com um número maior de industrializadores tardios bem-sucedidos (e mal-sucedidos), os modelos indutivos proporcionam um recurso de aprendizado tão rico para o ''resquício'' [2] como as teorias dedutivas.
Segundo, as ''falhas de governo'' já não poderão ser tidas como certas se os governos utilizarem mecanismos institucionais para elevar a produtividade e ligar no tranco o crescimento industrial. A falhas do governo podem ser inevitáveis na ausência de um maquinário sistemático que as impeça, mas não necessariamente na presença de tal maquinário, como vimos no caso do ''resto''. O mecanismo de controle recíproco do ''resto'' dificilmente era perfeito. Mas ele ilustra as possibilidades de minimizar as ''falhas'' do governo mesmo em economias assoladas pelo ''risco moral'' [3] e a corrupção (mas com experiência manufatureira).
Além disso, sob condições de conhecimento imperfeito, mesmo que '''acertar' os preços positivos'' gere competitividade internacional (mediante, digamos, a desvalorização da taxa de câmbio ou, o que dá no mesmo, a redução dos salários), esta não é uma solução ''ótima segundo Pareto'', definida como a melhor de todas as políticas, em que nenhum ator econômico pode melhorar a própria situação sem piorar a de um outro ator econômico. Nem a abordagem mercadológica nem a institucional ocupam uma posição moral ou teórica mais elevada. Como vimos no ''resto'' [1], pode ser mais proveitoso para o crescimento (e mais rápido -- e sobre isso a teria não nos pode dizer nada) elevar a produtividade por meio da engenharia institucional do que reduzir custos cortando salários.
Portanto, na ausência do conhecimento perfeito, a resolução do problema dos altos custos de produção torna-se uma questão antes empírica do que teórica.
Renunciar à premissa do conhecimento perfeito também significa abrir ainda mais as portas à possibilidade de elaborar teorias indutivas de desenvolvimento econômico. Modelos indutivos utilizam casos concretos de expansão industrial, em vez de hipóteses abstratas, para explicar o crescimento e orientar a formulação de políticas. Duas inferências da experiência do ''resto'' podem são relevantes nesse sentido.
Primeiro, os modelos indutivos podem influenciar a formulação de políticas econômicas mais do que (ou tanto quanto) teorias abstratas dedutivas. A influência de um modelo foi notável no caso das políticas tão bem-sucedidas de promoção às exportações no Leste Asiático, que extraíram exportações das indústrias de substituição de importações, tendo como base o antigo regime comercial (políticas e instituições) do Japão. Com um número maior de industrializadores tardios bem-sucedidos (e mal-sucedidos), os modelos indutivos proporcionam um recurso de aprendizado tão rico para o ''resquício'' [2] como as teorias dedutivas.
Segundo, as ''falhas de governo'' já não poderão ser tidas como certas se os governos utilizarem mecanismos institucionais para elevar a produtividade e ligar no tranco o crescimento industrial. A falhas do governo podem ser inevitáveis na ausência de um maquinário sistemático que as impeça, mas não necessariamente na presença de tal maquinário, como vimos no caso do ''resto''. O mecanismo de controle recíproco do ''resto'' dificilmente era perfeito. Mas ele ilustra as possibilidades de minimizar as ''falhas'' do governo mesmo em economias assoladas pelo ''risco moral'' [3] e a corrupção (mas com experiência manufatureira).
Até o momento não houve grande reconhecimento do maquinário sistemático que os países do ''resto'' instalaram, implementaram e monitoraram para evitar as falhas de governo e seguir metas desenvolvimentistas. Todavia, '''acertar' o mecanismo de controle'' a despeito de os preços prevalecentes estarem ou não ''certos'', foi fundamental para o processo de retomada no pós-guerra.
Observações
[1] Grupo de países composto por Brasil, Argentina, Chile, México, Turquia, China, Coreia do Sul, Índia, Taiwan, Malásia, Tailândia e Indonésia.
[2] O ''resquício'' são países que estiveram menos expostos a vida fabril moderna no pré-guerra, não possuindo posteriormente nada que se aproximasse da diversificação industrial do ''resto''.
[3] Situação em que um ator econômico portador de informação privada pode fazer uso desta em benefício próprio após a celebração de um contrato, eventualmente impondo prejuízos ao principal (ator econômico cujo retorno depende da ação daquele agente ou da informação que é propriedade do mesmo).